sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Recordações ...

"E o cheiro do café barato se misturando
à melancolia da tua falta
Quem sabe, mês que vem,
essa vizinha compra um café melhor?
Quem sabe, tua falta assim,
mês que vem,
não muda de cheiro"
Lucas Seiki Mestre Okabayashi"

Não costumo comentar poesias, porque cada uma tem um significado especial para o autor e isso acaba se misturando com a vida das pessoas, como se ela tivesse sido escrita para determinada pessoa e de uma forma tão especial que ela acaba se apropriando da mesma para si e imaginando inclusive, com toda certeza, que o autor escreveu para ela ou para ele, mesmo nunca o conhecendo em momento algum, talvez apenas no imaginário.
Eu quero falar aqui da falta e melancolia que às pessoas fazem falta as outras e a capacidade de não conseguir se superar e de tentar resgatar tudo que foi possível construindo a partir de uma vida com pequenas respostas e grandes gestos, de ter que dormir e conviver com aquela dor de algo perdido tão grande que não se tem a dimensão do quanto ferido foi se ficando aquela amargura de forma que não se conseguisse mais conviver com ela mais por um minuto sequer.
Despedir-se de uma pessoa que representava toda a sua grandeza acabava por ver como uma pessoa é capaz de não conseguir se superar e continuar convivendo sem qualquer que seja a sua angústia e a sua falta de convicção sobre tudo aquilo que pensava ser o certo e o melhor para sua vida, a admiração e o carinho por quem esteve ao seu lado durante muito e por força sua mesmo, de tão fora de si que sentia aquele afastamento, acabou por enganar a todos os outros que o melhor para si era o afastamento de tudo que lhe fazia lembrar de grande parte da sua vida. Como driblas a memória dos sentimentos tão intensos, se a cada luz, cada caminhar, cada porta do quarto, do banheiro, da sala, do choro constante e não ter mais ao seu lado mesmo que aparentemente, ele era a sua vida e a dele também, na realidade dos seus pensamentos ainda se permitiam estar juntos até o final, como sempre.
O pior que pode a acontecer a alguém, é conviver com os sonhos, conviver com os fantasmas, conviver com a sua própria solidão, na esperança que ele volte como um elemento salvador de si mesmo, não sei se ele virá ou quando isso pode acontecer, mas a desesperança é a fadiga e o cansaço da alma, de o tempo não conseguir mais repor as armadilhas que lhe tiraram quase todo o sentido da vida e não se ter esperança de encontrar uma nova fórmula de poder viver sem a dependência daquele cheiro e daquele jeito dia após dia que não sai da sua mente e do seu olhar triste ao longe, tudo muito sem motivo. A desvalia de ter sido a própria causadora de tudo isso, de expulsar a realidade para viver com o sonhos, com os pensamentos e com os pesadelos é que atormentam dia após dia. Ele foi embora, porque assim ela quis que ele fosse e nunca mais deu sinal de queria um dia poder vir a voltar estar com ela, já estava com outra, porque precisava seguir a sua vida, tão tortuosa, tinha uma vida em comum e dela ele tinha que certeza que não queria se afastar. Foi um final sem que nenhum dissesse ao outro sobre tudo que representavam na história deles mesmos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente, se você tiver coragem...