sábado, 13 de fevereiro de 2016

A MÍSTICA DA ALIANÇA - 09 de abril de 2006

"Devo dizer que fiquei muito surpreso quando o Beto e a Van anunciaram o noivado. eu nem sabia que as pessoas ainda noivavam! Claro, o pessoal da minha geração todo "contratou casamento" (Deus!), mas isso foi antes da revolução sexual, ou seja, na pré-história. E mais surpreso fiquei quando eles nos mostram as alianças. Iguaizinhas às que a gente usava. E iguaizinhas àquelas que vem sendo usadas há muito tempo - desde o Egito de 1700 a.C. Um costume que foi mudando e se consolidando com o tempo. No começo, as alianças eram de ferro; só no segundo século d.C.passaram a ser feitas de ouro, metal valorizado. Aliás tudo nas alianças é simbólico a começar pelo formato. Alguém pode ver nelas algemas em miniatura, mas a interpretação que em geral se dá à forma circular é menos cínica: como o círculo, o amor não tem começo e nem fim, é eterno, sempre se renova (espera-se).
Igualmente simbólico é o dedo em que se usa o anel, o anular. Acreditava-se que ali estava a "vênus amoris", a veia do amor que conduzia diretamente ao coração. Na astrologia, o anular é relacionado ao Sol, evocado pelo próprio formato do anel. Isto sem falar na óbvia conotação sexual que envolve o ato de enfiar o anel no dedo ou vice-versa.
Essas coisas eram tão importantes para as pessoas que nem a Igreja nem a monarquia puderam elas ficar alheias: no século 12, o papa Inocêncio III decretou que a cerimônia de casamento devia incluir a colocação do anel. O rei Eduardo VI, da Inglaterra, oficializou o anular como o dedo do casamento.
Nunca usei o anel de casamento. Não sei explicar de onde saiu esta resolução, e descobri-lo me custaria mais anos de análise que a imortalidade e os direitos autoriais podem me proporcionar. Mas creio que ainda é um resíduo da rebeldia juvenil da minha geração, aquela rebeldia que nos leva a desprezar a gravata como "coisa de burguês". Muitas vezes me pergunto o que diria o ovem Moacyr se visse o seu sucessor, com mais anos e menos cabelos, usando o fardão da Academia.
Falei em rebeldia juvenil? Escrevendo no Rheiniesche Zeitung em dezembro de 1842, disse aquele pai de todos os revolucionários, Karl Marx: "Ninguém é forçado a casar, mas quem casa tem que seguir as leis do casamento. Nenhum casado inventa o matrimônio, da mesma maneira que nenhum nadador inventa as leis da física dos líquidos". No Manifesto Comunista, critica os burgueses pela promiscuidade: traçam prostitutas, mulheres, proletárias e esposas de outros burgueses. É verdade que enquanto escrevia estas linhas, Marx traía a sua resignada mulher com a empregada (teve um filho dela). Mas disto não se vangloriava, mesmo porque não lhe faltavam preconceitos; quando Friedrich Engels, que era seu amigo e lhe dava dinheiro até para a comida, começou a namorar uma moça de classe humilde, Marx ficou indignado. Para acalmá-lo, Engels teve de mentir que a jovem era filha de um poeta famoso. Ou seja, Karl era um tanto confuso em relação ao assunto e assim não é de admirar que o Manifesto, ao fim e ao cabo, proponha "amor livre" como fórmula libertadora.
A aliança de noivado não é um antídoto contra as complicações da vida conjugal. Mas mostra como símbolos e rituais são importantes para as pessoas. Em alguma coisa precisamos acreditar. Não existe veia que vai direto para o coração, mas ninguém negará que o coração de fato existe."

Este texto de Moacyr Scliar tenta nos fazer em relação aos dias atuais e tempo de internet, onde  vários casamentos e relacionamento tem acontecido dessa forma. E de que em alguma coisa temos que acreditar.
Casamento não é brincadeira e é um passo sério no relacionamento, até porque dele se permeiam as decisões em discussões que travam-se na esfera civil, já que na Igreja, não haverá desdobramentos maiores, é uma vez só e deu, pelo menos na Católica. O certo é que hoje em dia, o casamento não é para sempre e já entra fadado ao término com data pré-estabelecida, ou seja, o patrimônio terá que ser dividido.
Meu casamento na Igreja, foi bem interessante, o anel era o das pirâmides, que uso até hoje, não se rompeu, mas já tive a oportunidade de tirá-lo do dedo. As testemunhas eram as faxineiras. E a risada da minha mulher na hora que o Padre falou da questão da fidelidade foi algo que me deixou bastante constrangido e isso apenas mostraria o quanto ela era debochada no que  acreditava ou não. Certamente, devido aquele deboche ela teve um ajuste de contas sério com Deus anos e anos depois, o que quer dizer que casamento não é brincadeira mesmo. Casei no Civil para tentar juntar renda e comprar um apartamento, não deu certo.

Hoje em dia, a questão do casamento é baseada no ato civil e deveria valer por dez anos, renovado por mais dez, no máximo. Após isso a separação e a divisão seria necessária para que o casal voltasse a repensar a relação e a oportunidade de seguirem juntos ou não após os filhos criados.


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