sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

A morte do gambá

Foi um dia atípico, sem dúvida nenhuma, mas quando olhei para o lado do carro e vi aquele animal daquele tamanho estirado ali, mortinho da Silva, vi que o cachorro tinha feito a sua parte, matou o danado que há noite andava por cima do telhado para cima e pata baixo, incomodando, como se fosse um fantasma, observando as transas que aconteciam em casa, e todos os momentos de privacidade, ele deveria ter muita história para contar e devia rir muito com os acontecimentos na sua câmera escondida.
O problema agora era outro, como se livrar daquele animalzinho, que não era nada pequeno, já que as moscas não paravam de cercar o animal e quem deveria fazer isso, não faria, deixaria para mim essa tarefa árdua e nem dizendo como deveria ser feito. A vizinha que estava na hora disse que o lixeiro passaria no outro dia pela manhã, eu fiquei me perguntando, como é que eu faria isso com o gari? Acabei pegando um saco mesmo, a pá e fui primeiro ensacar o bicho que já estava duro e seco, parecia até empalhado, isso mostraria como seria minha manhã, ainda teria que cozinhar e preparar tudo antes do meio dia. Optei por um omelete tradicional e o resto era possível improvisar, acabei fazendo o bife para o cachorro, ele merecia, eu ainda teria que dar um banho nele, depois daquela luta , o tal do gambá deveria ter tentado se defender acabando mijando ele, nem sei se foi isso, mas não tinha o adaptador de mangueira.
Depois teria que escolher aonde seria o enterro do animal, acabei tendo que cavar ao lado do terreno da casa, que me parecia mais fácil, aquele trabalho levou quase uma hora e foi o que fiz, enterrei o bicho ao lado da estrada, num barranco, acabei ainda por fazer um emparelhamento de pedras da entrada de casa, disfarçando o vizinho o que estaria de fato fazendo ali, ou seja, não foi possível fazer uma solenidade porque nem conhecia-o direito.
Há alguns anos atrás, a cadela do meu irmão também morreu, mas já de velha que estava, e a cena foi muito corajosa, recolher o animal pelas quatro patas e colocá-lo dentro da caminhonete, e levar para um lugar que pudesse ser feito o sepultamento. O ideal seria a casa dele na praia, mas teria que fazer um deslocamento, sem necessidade aparente, apenas para o enterro, não sei se é assim que deveria ser, mas acabei acho mesmo fazendo uma boa ação ao enterrar o animal, é um momento que ninguém gostaria de ter que fazer, mas acaba acontecendo.
Na realidade, as pessoas se apegam demais aos seus animais de estimação, e quando o perdem, sabem que levam consigo um pedaço inclusive da sua alma, tamanha a afeição que tiveram pelo bicho durante toda a sua vida e existência. Eu tive cachorro e sabia que ele precisava ser livre, e não ficar dentro de um apartamento, ele era a reencarnação provável de um cachorro que atropelei uma vez e não socorri, não havia o que fazer senão enfrentar o dono, eu tinha uma brasília e os faróis estavam apagados, era noite, ele brincava no meio da rua, provavelmente com seu dono. Tudo muito triste. O castigo veio mais tarde, quando apareceu aquele cachorro doido das ideias que inclusive rosnava para mim, tanto era a raiva que tinha de mim, mesmo tendo sido eu que tenha buscado ele para ir lá para casa. Prefiro não me lembrar sobre esse início descalibrado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente, se você tiver coragem...