terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Melcíades

- Melciades, me chamo Maria Helena, foi certa noite que meu cachorro, o Snoppy, apresentou problemas de saúde na noite, estava cambaleando e me olhava com aquele jeito tristonho querendo me dizer de que estava mal. Mas meu namorado havia trazido um livro para casa sobre o assunto,  e procurei ler alguma coisa que tirasse àquela angústia do Snoppy.
- E o que aconteceu? Encontrou a solução para o Snoppy? Um Veterinário?
- Não, encontrei dentro  do livro uma carta da amante do meu namorado, com quem moro há cinco anos,  falando que a minha relação com ele já havia chegado ao fim, de que já era usada, desgovernada, sem trabalho, com duas relações anteriormente frustradas, das brigas que invadiam os apartamentos dos vizinhos:que coloquei fogo nos cabelos da vizinha, fui expulsa do condomínio, e que somente ficava comigo porque tinha medo quando ele dissesse que não me agüentava mais.
- Mas e o onde eu entro nessa história? 
Ah sim, a partir daí, mandei meu namorado embora, e procurei uma cartomante, disse que conheceria um médico, que contaria um segredo e que daria rumo a minha vida, bastaria apenas fazer a pergunta certa para ele.
- E qual seria a pergunta, Maria Helena?.
- Melciades, quando li a dedicatória do livro, que estava com meu namorado, dizendo assim: “à Maria Helena, a mulher que não conheço, mas serei feliz para sempre...“ foi para mim que você escreveu?
- Sim, foi para você, não sei como isso aconteceu de fato, tudo acaba acontecendo sem eu saber ao certo como aconteceu, na verdade, durante um período que acabei passando por uma série de situações que me dei por conta que o meu anjo da guarda me protegeu durante bastante tempo e eu não sei se o que devo fazer agora se isso que dizer tem a ver com o que escrevi ou não, porque é aquilo que pode fazer com que a gente se encontre novamente.
- Melciades, porque você escreveu aquela dedicatória  para mim? Você ainda tem alguma esperança que tudo venha a acontecer como havia imaginado?
- Eu estava perdido, não sei ao certo como deveria fazer para te encontrar e em que momento, sentimentos que transcendiam nossos pensamentos, mas eu não poderia mais ser amante apenas, de ouvir os outros transando nos motéis, nos encontros nas banheiros em que você não resistia a água parada por um minuto sequer, de que não haveria como relaxamento ali nas águas balançando, que eram momentos que me deixaram realmente extasiados de prazer, tamanha era a tua vontade de ficar ali, fazendo ondas com a água da banheira, e que depois, saído do chuveiro não haveria tempo de mais nada, você acabaria dormindo e aproveitando aquele momento para repousar.
- E como saberia da questão do livro? De como chegaria até a mim? De que eu leria apenas a dedicatória sobre ele?
- De que eu te encontrei aquela noite perdida na vida, descrente do mundo e das relações, e sabedora de que ainda poderia encontrar alguém que lhe desse aquilo que você mais queria, um acompanhamento sensual e que você pudesse voltar a dormir como fazia desde o início dos tempos, de cansar tanto que não poderia nem sequer ouvir o barulho dos tachos do condomínio. E era isso que realmente importava. De eu apenas ser uma passagem, para tu seguir a tua vida de forma plena e racional. De que demoraria para finalmente conseguir esquecer das noites de sexta, das banheiras com sessões de completa performance sexual, de pé, deitados ou até emocionalmente engajados naquela total entrega.   
- E como chegamos ao fim, Melciades?
- Chegamos ao fim, porque você não dependia de mim para mais para nada, pegou o dinheiro da indenização do trabalho e seguiu a vida isoladamente, não quis saber mais da minha companhia, me chamou de covarde, disse que eu não sabia me organizar financeiramente, mesmo assim, queria ficar comigo, desde que eu a assumisse em casamento, assim como as outras, você não aguentou a pressão e sucumbiu.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente, se você tiver coragem...