segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Cláudia Tajes - 23/01/2016

"Eu sabia que ela tinha sido Miss Porto Alegre, que era escritora com vários livros publicados, especialista em Literatura Portuguesa, diretora da Faculdade de Letras da UFRGS e Patrona da Feira do Livro em 2011. Mas foi assim que, em um evento literário, a Jane Tutikian se apresentou para o público: ‘Quando o meu irmão nasceu, minha mãe deu a ele o nome de Johnny. Depois vim eu, Jane. Por sorte, na terceira gravidez, a mãe não teve uma menina”."
"Mas o que levou aquela filha de uma exímia costureira e de um severo guarda de trânsito a concorrer foi mesmo o prêmio, anunciado como sendo de “milhares de dólares”. “Seria a minha liberdade! Podia comprar um apartamento e, talvez, até dar entrada para um fuquinha!”, conta. A Jane só não sabia é que aquele dinheirão todo era em produtos. “Ganhei muitas roupas, uns 60 pares de sapatos (que nem cabiam na minha casa!) e 10 perucas de nylon Kanecalon. Tinha ruiva, mechada, crespa, curta. E o mais surpreendente de tudo é que usei todas!”
“Construí com esforço e com muita paixão minha carreira, passo a passo. Me preparei para isso. Cada vez tenho mais convicção de que a vida só vale a pena pelas grandes paixões. Hoje, tenho pós-doutorado, sou Professora Titular e Diretora, há oito anos, do Instituto de Letras. A possibilidade de formar gerações, de estabelecer uma relação de troca em que aprendo a juventude deles e lhes ofereço minha experiência, me encanta. A relação com meus colegas me enriquece. Tenho sorte, e muita. Recebo para viver, diariamente, a paixão que tenho pelas pessoas, pela literatura, pelo Instituto de Letras, pela UFRGS.”
Apenas gostaria de citar um fato que uma professora estadual me contou uma vez sobre Jane Tutikian, paraninfa de uma Turma de Letras ocorrida há algum tempos atrás.
Diz a formanda que no dia da formatura, havia perdido um dos seus brincos e que Jane, a paraninfa, sabedora da situação, na hora lhe emprestou seus brincos de ouro, oferendo a ela, que ainda disse a professora, como a sra. vai ficar sem os seus brincos? Ela disse que naquela noite, emprestaria seus brincos, porque a formanda sim é a que teria que bilhar, era uma noite apenas dela. O que demonstra que tudo isso que aconteceu depois, de Patrona da feira do Livro e tantas outras coisas, não aconteceram por acaso. O pensamento dela sobre formar gerações devia ser a missão de toda professora que decide seguir essa carreira tão apaixonante.
Acho que a gente tem que se espelhar com esse tipo de pensamento e de viver grandes paixões, pela literatura, pelas pessoas e pelo IL da UFRGS, estabelecer essa relação de troca, a juventude pela experiência. A gente sabe que não é bem assim, quem dera fosse, até porque fazer um pós doutorado não é para qualquer um, a gente sabe o que significa em termos de sacrifícios e abdicações para se transformar em ícone, com sabedoria e experiência para dar e vender. Com a situação que temos hoje nas escolas, de ter que transformar limão em limonada, de aprovação muita vezes sem que os conteúdos sejam vencidos pelos alunos em razão de quem o mercado de trabalho exige a preparação para a vida adulta por um certificado e o quanto ele é importante. Mas é que existem os outros que não querem apenas esse fator burocrático, precisam do incentivo, do apoio, e do ensinamento para que possam buscar conhecimento pelas próprias pernas e que tenham ambição suficientes para serem pessoas que possa fazer um novo tipo de construção em relação ao trabalho e a satisfação que ele pode oferecer. E é desses elementos desencadeadores é que precisamos formar para contagiar tantas outras pessoas que nos torne menos carentes dessa missão e desse caminho. Precisamos de pessoas que tenham essa visão e essa gana pela realização da sua própria estrada, que será a construção de muitos outros caminhos nas vidas das pessoas. Precisamos espalhar essas Janes por aí e dizer que o crescimento como pessoa também depende de si e da sua construção, da sua filosofia de ensino-aprendizagem e de uma posição que seja enriquecedora todo dia e a todo instante. De que as pessoas que quiserem acompanhar essa trajetória seja sim um pequeno pedaço, mas que represente muito nessa construção, e que essa obra vá se espalhando na estrada de várias outras pessoas. 

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