domingo, 17 de janeiro de 2016

Além da separação

Texto difícil esse. Não faz muito tempo, um amigo me disse, que a ex dele estava passando necessidade, inclusive de alimentação, e ele pensava em ajudá-la, justificando pela questão do filho, ele gostava dela mesmo assim, ela pedindo a separação e jogando ele num mar de solidão e de necessidades que não temos como dimensionar, mesmo assim, ele ainda gostava dela, mesmo com a Maria da Penha em cima dele e outras atitudes de raiva e acusações que ele não merecia e que não acreditou que ela fizesse alguma coisa, ele não quis investigar e ir na polícia denunciar, ele continuou acomodado e com isso perdeu o apartamento, a convivência com o filho e a própria mulher, o ciclo havia chegado ao fim.
Quando as mulheres mandam os homens embora e eles  deixam tudo para elas e resolvem esquecer o relacionamento e partir para outra, como o caso do meu amigo, em que se a ex piscasse ele voltaria para casa, não existe mais a alternativa de esperar, está mais do que evidente de que o ódio e a vingança, e de não querer mais olhar para cara do companheiro e algo incomensurável na vida real.
Mais tarde o Homem acaba ficando sem chão quando sabe que a sua vida não era tão ruim como ela imaginava e pensava, o pior é ele perceber que ela perdeu o rumo e não consegue mais encontrar o caminho de volta para aquela sua segurança e sabedoria que estava por trás daquela relação enfadonha que existia entre os dois, da tristeza em ver que o golpe que ela aplicou contra ele veio partilhar-lhe o coração e a alma, porque não se afugenta uma palavra como o casamento e a união estável, se tira fora toda a esperança de que um dia, naquele momento, tudo seria melhor, que voltaria a sorrir e a exemplo de seus e suas colegas, conviver vidas paralelas com seus de forma pacífica e tranquila, e mesmo que não se possa voltar atrás com ele recomeçar novamente com outra pessoa. Para o que foi embora, assistir essa melhoria, a colocação de um ar condicionado, a compra de um carro novo, a mudança de um móvel e tudo aquilo que se identificava com a pessoa vai ficando de cada vez mais difícil convívio, acabamos definhando e adoecendo porque não conseguimos lidar com essas lacunas que ficaram dentro de nós mesmos. Para o Homem, incrédulo e sensível, acaba se culpando por não ter mudado na hora que poderia, de ter feito diferente, de colocar os quadros de volta no lugar, de demitir os parentes e a empregada pela relação que ainda poderia ser consertada, porque no final era o que acabaria preservando ela do pior.
O homem caba dando as costas porque foi ridicularizado no início, foi jogado ao calabouço moral e a perseguição das suas próprias paranoias, teria que voltar e pedir perdão, mas mesmo assim isso não teria mais condições de mudar, não seria mais o mesmo.
Uma vez meu fisioterapeuta meu aplicou um RPG e me disse que seu pai depois que saiu de casa melhorou muito, e que agora, quando chegava na casa que não era mais dele, era outra pessoa, educado, interessado, havia mudado, aquela pessoa cansativa para os outros havia ido embora, ele se tornou uma pessoa melhor, que não quer que isso aconteça?
Até quando para sermos pessoas melhores temos que abrir mão daquilo que realmente nos interessa e é o correto.
Quando passamos a perceber que aquilo que aconteceu fez um estrago muito maior que o necessário, entendemos que tudo aquilo que fizemos não serviu de nada, nos passa um sentimento de fracasso e de desordem, de que a proporção que aconteceu isso veio de fora e que mesmo quem tenha provocado, deve ter pagado um custo muito grande para fazer isso acontecer.
Mesmo numa nova vida, ainda em algum lugar estamos presos àquela que nos apresentou para o mundo como nós somos. Ainda podemos melhorar tudo isso, ou pelo menos, não piorar.

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