sábado, 2 de abril de 2016

Eliane Brum: "Só tem credibilidade quem investiga, checa e se importa com a precisão"

Nelsonpoa: Vivemos uma crise realmente sem precedentes, eu diria uma das piores que já vi e eu só escuto cortes de investimentos e de pessoal, sem falar de essa questão que atinge a imprensa escrita, diminuição inclusive do pessoal experiente, que é balizador para os que estão que acabam aprendendo na marra, sem a batuta dos que já tem a vivência, todos perdem, a coisa piora como um todo, fala-se de fragilidade no campo minado nas redações. O problema de o leitor ser mal informado é que ele ainda não sabe interpretar corretamente o que está acontecendo sem uma limpeza ou purificação dos fatos. Sou assinante da ZH há muitos anos, mas ultimamente eu só consigo acessar o clicrbs, porque eu quero participar das opiniões, preciso também saber se o que eu penso pode ter alguma contestação a respeito ou ter alguma contra partida me dizendo que estou fora do compasso, que me esclareça alguma coisa que eu não vi, mas como a opinião é aberta, muita disputa de beleza dos participantes, e é isso que o assinante teria que ter, esse espaço de responder aos textos e de que forma a gente se insere em determinado contexto. Na realidade todos temos pressa em querer saber de todos os assuntos, e queremos mesmo a maior isenção possível, mas quem tem essa capacidade? A Zero Hora dominical, que agora inclui a de sábado, eu tento salvar o caderno Donna, e tento me inspirar para chegar até os outros cadernos, nos valemos do JN, do Bom dia Rio Grande, do JA  e da internet para especular e tentar entender o que se passa e porque nos passaram para trás nos nossos sonhos, e só agora vemos que de fato o país se dividiu ao meio como uma melancia madura, está mais do que claro porque a crise nos atingiu, e agora, com a saída do PMDB, estão rifando os cargos e se pergunta porque troca de votos contra o Impaeachment, tudo muito duvidoso mesmo. Sempre tivemos uma imprensa investigativa em cima dos fatos e dos acontecimentos, mas não antes do já acontecido como no caso Collor. A nossa imprensa sempre foi representada pela revista Veja, e por outras revistas que mostravam muito mais que um texto, como a Piauí, demonstravam uma ideia do que verdadeiro papel da imprensa, mas muitos só tem acesso ao Diário Gaúcho e O Sul que são notícias de título apenas, uma forma de dizer tudo numa ideia apenas, que jornalismo é esse?
A questão quanto aos post do facebook, esse é um problema sério, porque divulga apenas uma opinião sem o contra ponto, que é ruim, não é sequer investigativa, ela é unilateral, demonstra a opinião de uma pessoa sobre determinado assunto e joga na rede, eu tenho evitado acessar e opinar a respeito, porque mesmo que as pessoas concordem, o vídeo ou a imagem já foram divulgados e a questão se tornou tendenciosa até porque a gente já sabe como a pessoa se posiciona, ou seja, credibilidade e profundidade como nos velhos tempos não temos mais, e as opiniões das pessoas não representam muito se não tiver de onde sustentar a informação. Tudo muito duvidoso, e se não tivermos uma posição sobre os acontecimentos, através de muita leitura, não podemos nem ficar em cima do muro, que é o meu local preferido.
Falando em financiamento de reportagem, parece mais com financiamento de campanha eleitoral ou coisa que o valha, me desculpes, mas quem assina um jornal ou quem compra o mesmo, ou até o digital, compra o clique, quer o melhor repórter e quer que ele não esteja contaminado, porque o que ele disser hoje pode valer por muito tempo, dá até para scanear ainda, logo, isso de cobrar do leitor não, tem que cobrar aquele quem quer ser free e depender apenas do seu trabalho, mas tem gente que vai morrer de fome, porque esse tipo de jornalismo é caro e exige além de tempo, atividades paralelas, não apenas dedicação exclusiva, o modelo tem que ser financiado por quem precisa do poder de ter esse tipo de informação e realmente pode pagar por ela e não o que está interessado apenas no futebol. Se o assunto for relevante e de meu interesse, com certeza eu vou clicar porque quero saber como faço para obter aquele tipo de informação privilegiada e quero chegar numa reunião de negócios ou numa entrevista com essa arma na mão, eu paguei por ela, e quero usá-la a meu favor.
O movimento profundo de desabitar-se de si mesmos e atravessar a rua de si mesmo e ficar por lá, ir e volta como se não tivesse ido, quem não gostaria de ser assim, de usar técnicas como a meditação e a procura do entendimento sobre o que queremos dizer e escrever para que nos entendam, olha isso é tão profundo de possuir a si mesmo, só consegue quem tem essa capacidade de gostar tanto de si e do que representa que vai muito além daquilo que é necessário, de que às vezes vivenciamos coisas tão intrigantes e memoráveis que precisamos contar às pessoas como elas aconteceram e de que forma, mas acredito que é tão assustador e inusitado que chega causar medo da reação das pessoas, acho que por esse motivo tentamos contar de forma diferente, mas entendo que não há como fazer um omelete sem quebrar os ovos.
Ser repórter me faz lembrar um filme com a Juliete Binoche, Mil vezes Boa noite, que fala dessa paixão pelo campo de batalha, pela rua, pelo casuísmo e pela condição quase que insofismável de dizer que pode viver de outra coisa, ou fazer outra atividade, quando aquele vício que nos consome, nos perturba e nos arremete a um turbilhão de emoções que pode nos causar os maiores tipo de sensações possíveis, e esse vício assim como para mim me perturba, porque preciso do cinema, por exemplo, para entender a vida e o que dela se pode continuar a entender, do diretor aos atores, personagens e suas mais variadas personificações.
Silenciando a voz do outro mata-se o outro simbolicamente, acho que uma vez numa reunião de produção, escutei o comentário que até o consenso era difícil de entender e aceitar, porque ele poderia nos causar uma serie de disputas internas dentro de nós mesmos. Não é possível estabelecer um acordo com radicais islâmicos por exemplo, que apenas fazem do seus ensinamentos a sua alça de mira, que não age dessa maneira é porque em algum momento, na escola ou na vida, não foi sabatinado como deveria ter sido, entrou num labirinto no qual acabou percebendo que até encontrar a saída irá vagando com a sua incoerência em colocar à força seus ideais sem apoio, preferem então forcar uma posição em que possa ter visibilidade e talvez nem seja assim mesmo, na verdade ele é aquilo que todos tememos, uma Maria vai com as outras.
Entendo que precisamos de mudança da bancada, e essa bancada deve ser tirada de lá de qualquer maneira, ou pela corrupção ou pelo que faz em usar o corpo da mulher como moeda de troca, mas todo cuidado é pouco quando se critica dessa maneira, e não é esse o motivo do texto e sim de que esse tipo de informação é que precisa ser o alvo da reportagem, da parte elucidativa e do contexto da real que as mulheres que não tem dinheiro para pagar um aborto estão sujeitas a um tipo de discriminação legislativa e que está sendo cometida pelos  BBB do congresso. Há muito tempo vivemos coisas muito piores e ainda estamos sendo capazes de sermos negociar essa barganha, o que não pode acontecer, a reportagem precisa mostrar apenas a realidade que por si só já deve ser considerada pelos movimentos feministas como uma luta armada e decidida para que as leis sejam cumpridas a favor desse pessoal menos favorecido e discriminado.
O Povo do Meio imagino que tenha sido o melhor dos desafios quando falamos em amor e paixão por aquilo que acreditamos, mas Gretchen não me sai da cabeça.

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