sábado, 16 de abril de 2016

Como o corpo reage a um evento traumático e as consequências que essa memória pode trazer

 "Quem passa por uma situação adversa pode seguir sua vida sem ser afetado ou ser traído pelas lembranças"

Depois desse começo um tanto primitivo, entra em cena um elemento complexo e demasiadamente humano: a memória. Quem passa por uma situação adversa pode seguir sua vida sem ser afetado por aquele acontecimento ou ser traído pelas lembranças. A recordação recorrente do fato estressor faz com que, por alguns dias, o corpo volte a ter algumas reações fisiológicas relacionadas a ele, como fadiga, tensão muscular, sobressaltos, taquicardia, náuseas e perda de apetite. A persistência de sintomas como esses configura o trauma.
— Em geral, as pessoas expostas a um evento potencialmente traumático passam a reviver aquela experiência em algum grau, mas a maioria se recupera. É o que chamamos de resiliência — explica o doutor em psiquiatria Rodrigo Grassi-Oliveira, coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Trauma e Estresse (NEPTE), da PUCRS.

Por motivos que a ciência ainda tenta entender, uma pequena parcela das pessoas traumatizadas, em torno de 20%, não consegue superar um trauma. É aí que ele começa a se tornar um risco à saúde, desencadeando transtornos psicológicos.
Por estar relacionado à memória, o trauma costuma ter efeito cumulativo. Pessoas que passam por mais traumas, independentemente do tipo, também mostram-se mais predispostas a, em algum momento, desenvolverem um transtorno. Outro fator de risco é a idade em que se é exposto a um evento traumático: entre os poucos consensos na área, está a ideia de que, quanto mais cedo isso ocorre, piores podem ser as consequências para o indivíduo afetado.
— Hoje sabe-se que uma parte relevante de casos de dependência química está relacionada a traumas de infância. Os estudos mostram que o fato de ser exposto muito precocemente a um trauma reprograma a pessoa para o resto da vida, alterando o curso do desenvolvimento das estruturas psíquicas. Fica como uma cicatriz — diz Rodrigo Grassi-Oliveira, que estuda traumas precoces.
Nádia* pede licença para acender um cigarro enquanto conversa ao telefone com a reportagem. A tragada serve como uma espécie de introdução a um assunto sobre o qual aprendeu a falar há pouco tempo: o suicídio do marido, ocorrido há quase cinco anos.
O luto pela morte inesperada do companheiro, que sofria de depressão, culminou no consultório médico quando, anos depois, ela foi finalmente diagnosticada com Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). O que viveu de julho de 2011 até buscar ajuda especializada, em 2015, foi um período marcado pela tentativa de retomar sua vida sufocada por sentimentos que não podia controlar.
— Foi uma coisa maior do que eu podia explicar. Não fazia ideia de que uma pessoa depressiva podia chegar a esse ponto — lembra.
Como buscar ajuda gratuita
Núcleo de Estudos e Pesquisa de Trauma e Estresse (Nepte)
Contato: (51) 3353-4898 e nepte.pucrs@gmail.com
Como proceder: é preciso agendar uma avaliação por telefone ou e-mail.
Núcleo de Estresse e Trauma (Net-Trauma)
Contato: Hospital de Clínicas de Porto Alegre - Zona 8 (Rua Ramiro Barcelos, 2.350)
Como proceder: o serviço é destinado a vítimas de violência urbana ou doméstica, a partir dos 18 anos. Interessados podem ir ao local às quartas-feiras, a partir das 8h, com encaminhamento médico e carteirinha do Sistema Único de Saúde (SUS).
Nelsonpoa: O ideal é a gente estar preparado para quando acontecer. Quando meu pai faleceu nós já estávamos preparados e aguardando apenas o desfecho do caso que já se arrastava por seis meses. Foi ruim, mas a gente já sabia o que iria acontecer. Quando sabemos que uma separação é inevitável, o ideal é nos prepararmos, com antecedência para o que vem pela frente, que teremos que superar da melhor forma possível e nos adiantar com pelo menos seis meses ao fator tempo, se prevenir ao efeito traumático. Quanto ao resto, isso depende muito de pessoa para pessoa e o tipo de trauma que cada um acaba por passar, e as perdas em relação a isso. Acho que vale a situação do tipo o que cada um fez por merecer e Deus vai dar uma cruz do tamanho que a pessoa possa carregar. O passado da pessoa e o que ela passou na infância e adolescência é que vão dizer o tipo de comportamento que a pessoa vai ter que fazer para superar. Por isso que evitar os traumas desde cedo, nos deixam, teoricamente, mais capazes de encarar aquilo que realmente nos deixam enfraquecidos e não resilientes aos acontecimentos. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente, se você tiver coragem...