"Quem passa por uma situação adversa pode seguir sua vida sem ser afetado ou ser traído pelas lembranças"
Depois desse começo um tanto primitivo, entra em cena um elemento complexo e demasiadamente humano: a memória. Quem passa por uma situação adversa pode seguir sua vida sem ser afetado por aquele acontecimento ou ser traído pelas lembranças. A recordação recorrente do fato estressor faz com que, por alguns dias, o corpo volte a ter algumas reações fisiológicas relacionadas a ele, como fadiga, tensão muscular, sobressaltos, taquicardia, náuseas e perda de apetite. A persistência de sintomas como esses configura o trauma.
— Em geral, as pessoas expostas a um evento potencialmente traumático passam a reviver aquela experiência em algum grau, mas a maioria se recupera. É o que chamamos de resiliência — explica o doutor em psiquiatria Rodrigo Grassi-Oliveira, coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Trauma e Estresse (NEPTE), da PUCRS.
Por motivos que a ciência ainda tenta entender, uma pequena parcela das pessoas traumatizadas, em torno de 20%, não consegue superar um trauma. É aí que ele começa a se tornar um risco à saúde, desencadeando transtornos psicológicos.
Por estar relacionado à memória, o trauma costuma ter efeito cumulativo. Pessoas que passam por mais traumas, independentemente do tipo, também mostram-se mais predispostas a, em algum momento, desenvolverem um transtorno. Outro fator de risco é a idade em que se é exposto a um evento traumático: entre os poucos consensos na área, está a ideia de que, quanto mais cedo isso ocorre, piores podem ser as consequências para o indivíduo afetado.
— Hoje sabe-se que uma parte relevante de casos de dependência química está relacionada a traumas de infância. Os estudos mostram que o fato de ser exposto muito precocemente a um trauma reprograma a pessoa para o resto da vida, alterando o curso do desenvolvimento das estruturas psíquicas. Fica como uma cicatriz — diz Rodrigo Grassi-Oliveira, que estuda traumas precoces.
Nádia* pede licença para acender um cigarro enquanto conversa ao telefone com a reportagem. A tragada serve como uma espécie de introdução a um assunto sobre o qual aprendeu a falar há pouco tempo: o suicídio do marido, ocorrido há quase cinco anos.
O luto pela morte inesperada do companheiro, que sofria de depressão, culminou no consultório médico quando, anos depois, ela foi finalmente diagnosticada com Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). O que viveu de julho de 2011 até buscar ajuda especializada, em 2015, foi um período marcado pela tentativa de retomar sua vida sufocada por sentimentos que não podia controlar.
— Foi uma coisa maior do que eu podia explicar. Não fazia ideia de que uma pessoa depressiva podia chegar a esse ponto — lembra.
Como buscar ajuda gratuita
Núcleo de Estudos e Pesquisa de Trauma e Estresse (Nepte)
Contato: (51) 3353-4898 e nepte.pucrs@gmail.com
Como proceder: é preciso agendar uma avaliação por telefone ou e-mail.
Contato: (51) 3353-4898 e nepte.pucrs@gmail.com
Como proceder: é preciso agendar uma avaliação por telefone ou e-mail.
Núcleo de Estresse e Trauma (Net-Trauma)
Contato: Hospital de Clínicas de Porto Alegre - Zona 8 (Rua Ramiro Barcelos, 2.350)
Como proceder: o serviço é destinado a vítimas de violência urbana ou doméstica, a partir dos 18 anos. Interessados podem ir ao local às quartas-feiras, a partir das 8h, com encaminhamento médico e carteirinha do Sistema Único de Saúde (SUS).
Contato: Hospital de Clínicas de Porto Alegre - Zona 8 (Rua Ramiro Barcelos, 2.350)
Como proceder: o serviço é destinado a vítimas de violência urbana ou doméstica, a partir dos 18 anos. Interessados podem ir ao local às quartas-feiras, a partir das 8h, com encaminhamento médico e carteirinha do Sistema Único de Saúde (SUS).
Nelsonpoa: O ideal é a gente estar preparado para quando acontecer. Quando meu pai faleceu nós já estávamos preparados e aguardando apenas o desfecho do caso que já se arrastava por seis meses. Foi ruim, mas a gente já sabia o que iria acontecer. Quando sabemos que uma separação é inevitável, o ideal é nos prepararmos, com antecedência para o que vem pela frente, que teremos que superar da melhor forma possível e nos adiantar com pelo menos seis meses ao fator tempo, se prevenir ao efeito traumático. Quanto ao resto, isso depende muito de pessoa para pessoa e o tipo de trauma que cada um acaba por passar, e as perdas em relação a isso. Acho que vale a situação do tipo o que cada um fez por merecer e Deus vai dar uma cruz do tamanho que a pessoa possa carregar. O passado da pessoa e o que ela passou na infância e adolescência é que vão dizer o tipo de comportamento que a pessoa vai ter que fazer para superar. Por isso que evitar os traumas desde cedo, nos deixam, teoricamente, mais capazes de encarar aquilo que realmente nos deixam enfraquecidos e não resilientes aos acontecimentos.
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