segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Telefone BRANCO...

Pois eu atendia o teleofne lá em casa muito seguidamente, achavam que eu tinha voz de mulher, isso realmente era constrangedor, o dono da Padaria também implicava com o meu cabelo e me chamava de guria, eu precisava do pão e do leite, e se eu mandasse ele tomar naquele lugar, no fio-o-fó, acho que ele não me atenderia mais. Uma vez ele nos vendeu uma galinha pobre, digo, podre, foi a minha vez da desforra, cheguei eu com a galinha, e na frente de todo mundo, abri a galinha assada, com aquele cheio de podre, me sentia vingado. Várias vezes atendi o telefone de uma mulher que se entitulava amante do meu pai, devia ser uma fá dele, incondicional, pois aquilo, que parecia ser uma brincadeira, acabou por ficar sério e terminar com uma visita no HPS, onde uma funcionária de lá, vazia as ligações para incomodar a gente. O pai era pacato e incapaz de conviver com uma pessoa daquelas, que começou a fazer aquilo, mais seguido, até o dia que ele ficou doente e tudo aquilo começou realmente a ficar sério. Uma vez em casa vi a mãe ter um ataque de nervos por causa daquilo, de que a doida estava incomodando a gente e ele internado no Hospital, coisa de gente muito baixa mesmo, uma verdadeira chinelage, coisa de maloqueragem, como se diz na gíria. Algumas peças depois foram se encaixando e tudo acabou de que o pai tinha mesmo essa questão de ter uma outra vida fora de casa, ele era influente, Presidente de Associação, de Clube, de entidades, estava sempre envolvido em alguma agremiação, não se sabe se era para manter uma fachada para as saídas a descoberto que ele fazia. Então, começamos a gravar as ligações, uma após a outra, e juntamos mais de dez fitas de vídeo cassete, mais a gravação que a empresa telefônica, trastreando as ligações, terminamos de vez com aquela situação e nunca mais ouvimos falar no nome da pessoa. Sei que quando o pai retornou para casa, ligamos o gravador para o pai ouvir todas as mais de dez fitas, para ver o que a gente estava passando e a mãe estava ficando craque em responder aquela rafuagem, coisa que nem eu acreditava. Sei que aquilo mercecia uma resposta e um dia ela e a minha prima foram para um orelhão e despejaram para aquela mulher, que agora estava sem poder dizer uma palavra, várias ofensas e palavrões que a minha mãe chegou não conseguia se conter de tanto rir, disse até que nunca ouviu tanto nome feio, de que desconhecia a maioria e que eram tão horríveis que chegou a levar um susto com o repestório da minha prima e do tipo de pessoa como aquela poderia ser, do tipo assim vagabundo era um elogio de grande porte e o que ela fazia, sendo rampeira e o tipo de coisas que uma pessoa desse tipo faz. Sei que tudo terminou assim, muita envolvida na bagunça e meu pai voltando a realidade do mundo em que viviam com seus filhos e com a mulher que virava e mexia botar o dedo na ferida. Não me esqueço os números dos telefones lá de casa por isso, numa época em que ter teleofne era algo realmente nobre, muito pouca gente tinha condições de ter um. Teve uma época para comprar um telefone tu passava o dia inteiro na fila da CRT e depois esperava que um telegrama chegasse que o bilhete tinha sido premiado.

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