segunda-feira, 29 de junho de 2015

Canto Alegretense

Canto Alegretense Letra de Antonio Augusto Fagundes e melodia de Bagre Fagundes Não me perguntes onde fica o alegrete Segue o rumo do teu próprio coração Cruzarás pela estrada algum ginete E ouvirás toque de gaita e de violão Pra quem chega de Rosário ao fim da tarde Ou quem vem de Uruguaiana de manhã Tem o sol como uma brasa que ainda arde Mergulhado no rio Ibirapuitã Ouve o canto gauchesco e brasileiro Desta terra que eu amei desde guri Flor de tuna, camoatim de mel campeiro Pedra moura das quebradas do Inhanduí E na hora derradeira que eu mereça Ver o sol alegretense entardecer Como os potros vou virar minha cabeça Para os pagos no momento de morrer E nos olhos vou levar o encantamento Desta terra que eu amei com devoção Cada verso que eu componho é um pagamento De uma dívida de amor e gratidão Ouve o canto gauchesco e brasileiro Desta terra que eu amei desde guri Flor de tuna, camoatim de mel campeiro Pedra moura das quebradas do Inhanduí. Em homenagem a Antonio Augusto Fagundes, falecido em 24 de junho de 2015, elaborei coluna especial com uma pesquisa sobre a letra do “Canto Alegretense”. O objetivo é decodificar termos e expressões típicas da linguagem regionalista e da campanha gaúcha que constam dessa música que se tornou o segundo hino do Rio Grande do Sul. Convido os leitores a fazerem uma leitura inicial do poema e, após acompanhar a pesquisa, relerem o texto para se apropriarem de seu conteúdo com maior profundidade. Professor Ari Riboldi Alegrete - Cidade que está localizada nas terras que foram doadas por Antônio José Vargas, um senhor de sesmaria. O nome Alegrete vem do V Marquês de Alegrete, Dom Luís Teles da Silva Caminha e Meneses, nomeado comandante militar, em 1816, e, dessa forma, representante oficial do Rei Dom João VI. É o maior município do Rio Grande do Sul em área territorial, com mais de 7.800 metros quadrados, na região Oeste do Estado, a 506 quilômetros de distância de Porto Alegre. Camoatim - De origem obscura, possivelmente do tupi. Também se usa camoati. Pequena vespa muito agressiva, com 11 milímetros e comprimento, preta, com dois traços amarelados transversais. Faz um ninho (colmeia) esférico e recoberto de processos espinhosos, geralmente nos beirais das casas das áreas rurais, também em árvores e pedras. Fabrica um mel muito apreciado, porém em pequena quantidade. Ginete - Do árabe zenêti, indivíduo dos zênetas, tribo afamada por sua cavalaria ligeira. Cavaleiro bom, ágil, firme nas rédeas; indivíduo que monta cavalo de corrida; jóquei. Montar à gineta, ou seja, à moda gineta é um modo de equitação em que o cavaleiro monta com os estribos curtos, o que lhe permite deslocar o corpo com facilidade e agir sobre o equino para que acelera a marcha. É o método usado nas corridas de cavalos. Guri - Do tupi gwi'ri, bagre novo. Na linguagem regional, criança, piá, menino. Ibirapuitã - Provavelmente do tupi, arroio da madeira vermelha. Rio que nasce em Santana do Livramento e passa por Alegrete até desembocar no rio Ibicuí e este deságua no Rio Uruguai. Inhanduí - Nome do rio às margens do qual foram erguidas as primeiras casas da povoação de Alegrete. Provavelmente de origem tupi, com o significado de "rio das emas". Pago - Substantivo, do latim pagus, pau, marca, baliza metida na terra para fazer a demarcação; território rural limitado por marcos; aldeia, povoação. Pequena povoação, aldeia. Na linguagem regional gauchesca, município de origem, cidade de nascimento, querência, rincão, povoado, lar. Geralmente é empregado no plural. É um dos termos mais usados pelo gaúcho: ‘os pagos onde eu nasci’. Pedra moura - pedra preta. Do latim maurus, a um, relativo à Mauritânia; antigo habitante árabe do Norte da África, cuja tez era escura. Como adjetivo, designa a cor negra salpicada de branco da pelagem de animal. Assemelha-se à cor do granito e da ardósia. A pedra moura é comum na região da campanha, na beira dos rios ou em áreas em que foram abertas estradas. Potro - Do latim medieval pullitus, depois pullus, filhote ou cria de animal, poldro. Cavalo novo; cavalo chucro - que ainda não domado. Quebrada - Do verbo latino crepare, estalar, rebentar, fender-se, rachar-se. Depressão em terreno; declive de montanha, encosta, brecha, cavado, depressão funda e pouca longa numa crista de rochas. Quebradas do Inhanduí - Subdistrito de Alegrete, às margens do rio Inhanduí, localidade onde morava a família Fagundes. Tuna - Do espanhol tuna, figo da figueira-da-índia. Cacto comum na região da campanha com flores avermelhadas, de aroma suave, cujo fruto - espécie de figo - é considerado emoliente e calmante para a tosse. Tirar camoatim sem poncho - Executar trabalho penoso, árduo, que requer muito sacrifício; encontrar-se em situação de extrema penúria, em grande carestia - equivalente a “matar cachorro a grito”. Por ser uma vespa muito agressiva, o homem costuma tirar o mel em período de inverno, nas manhãs bem frias, quando ela está enregelada e inofensiva. Nesse período, o gaúcho veste o tradicional poncho para se proteger do frio intenso e do vento minuano. Não é recomendado colher o mel desses insetos em tempo quente, ou seja, quando não há necessidade de vestir o poncho, pois há o risco de receber doloridas picadas. Fale e escreva corretamente - Tacha, tachar; taxa, taxar Tacha - Pequeno prego de cabeça achatada, tachinha, defeito moral, mancha, pecha. Colocaram várias tachas no assento da cadeira do chefe. Não me ponha tacha (pecha) de corrupto pelo fato de trabalhar na área pública. Tachar - Pôr tacha (prego) em, colocar defeito em, censurar, acusar. Não me tache de preguiçoso, só porque faço meu trabalho com mais cuidado. Foi tachado de irresponsável por ter abandonado o balcão de atendimento ao público. Taxa - Tarifa, imposto, tributo, porcentagem, índice. A taxa de energia elétrica foi majorada por causa da escassez de água. Um dos índices para medir a qualidade de vida é a taxa de mortalidade infantil. Taxar - Estabelecer, regular, fixar preço; definir o valor de um imposto; estabelecer o preço de um produto. O mesmo que tarifar ou tributar. O governo pretende taxar a importação de qualquer mercadoria. Ditado popular Grudado como carrapato em tábua de pescoço Tábua, nessa frase, designa a face lateral do pescoço de um cavalo ou de outro animal. É uma das partes do corpo preferida pelos carrapatos, que são parasitas, para se fixarem e sugarem o sangue dos bichos. Diz-se de quem se prende exageradamente a uma posição, a um cargo ou a uma pessoa, para manter poder e tirar proveito, apesar de ser escorraçado. Suporta desaforos, hostilidades e humilhações para não perder as vantagens que o posto lhe garante. Como diz o povo, não larga o osso de jeito nenhum!

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