quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Do desespero à euforia: após 10 anos, personagens relembram a Batalha dos Aflitos

Onde você estava quando caíram as torres Gêmeas, ainda nos perguntamos isso até hoje. Lembro que estava no Aeroporto Salgado Filho - TPS2, e acompanhei toda aquela novela, e a questão do terrorismo, que chegava aos EUA para mostrar a sua cara. Sabemos do 11/09 que ficará guardado para sempre.

Na Batalha dos Aflitos, estava em casa, com meu parceiro de todos os jogos, Clovinho, a gente tinha uma história muito bacana de secação do Internacional, estávamos sempre juntos, e a gente acaba sempre tomando mais cervejas do que o nosso corpo aguentava. Hoje nem sentamos mais juntos na Arena, mas naquela época, assistimos aquele jogo e quando ocorreu a cobrança do Penalti, a gente não sabe direito o que aconteceu...só sabíamos que o Santa Cruz estava dando a volta Olímpica com a Taça, provavelmente no Mundão do Arruda, nem sei se era. Estava passando na Tv e o Grêmio lá, lutando para se livrara daquele inferno.
Além da defesa do Galato, eu me lembro que tinha um lateral chamado Escalona, do Pereira, que até hoje é endeusado não tanto quanto o Galato, que sempre manifestou a sua paixão pelo Grêmio, assim como Marcelo Grohe. Patrício deu uma peitada no juiz, que talvez tenha sido a grande confusão que acabou por dar certo, de uma imposição de continuação e de respeito. Não sabemos dizer, e aquele Ânderson também salvou o Grêmio duas vezes, a primeira quando driblou todo mundo e fez o gol, e depois quando foi vendido por parcos cinco milhões, o Grêmio estava falido! A torcida reclama dele ter trocado de manto, eu ainda respeito e admiro, aquele garoto vale ouro, mesmo no clube adversário.
Eu sei que eu tinha uma festa para ir depois do jogo, era um evento como se fosse beneficente, e era preciso ir, acompanhar uma colorada que fez em conjunto com uma amiga, uma confraternização até hoje não sei a troco de quê? Várias pessoas compareceram, mas eu entrei naquele espaço e dirigi até lá com a sensação de dever cumprido, mas anestesiado e me perguntando como é que foi que aquilo aconteceu, e se não era um sonho.
Tudo que se passou depois, do caminhão de bombeiros, do staff de campeão mundial, da façanha inusitado ao mundo e às pessoas todas que o Grêmio novamente entraria para História e ficaria lá por toda a eternidade e a sina de Imortal estava entrando para ficar para sempre na história do Grêmio.

Galatto, ex-goleiro do Grêmio"Sempre escuto os mais experientes. O treinador de goleiros, o Chiquinho, durante todo o ano me passou tranquilidade e algumas situações que poderiam acontecer. Claro que a gente não imaginava aquilo, expulsão, dois pênaltis contra. Eu procurava me manter tranquilo. Mas cada minuto que passava algo acontecia. Torcedor invadindo, Polícia Militar no campo. Não tinha como ficar muito concentrado. Mas eu tinha que ficar atento. Eu sou um cara meio frio, consigo controlar. Me lembro que o Chiquinho me chamou, Mano também, a gente teve um diálogo no meio do tumulto. Mas meu jeito é esse, de ficar atento. Dentro de mim, eu sabia que tinha que defender aquele pênalti, eu não podia demonstrar para os outros que estava nervoso"

Antônio Carlos Verardi, superintendente"Sinceramente, foi a maior emoção da minha vida em cinquenta e tantos anos de Grêmio. Mas não não gostaria de reviver. Era uma tragédia anunciada que, felizmente, se tranformou numa alegria imensa. Não há como descrever o alívio. Não sabia que tinha tantas lágrimas para chorar. Foi um mar de lágrimas. Lembro da minha tensão na hora do pênalti. Fiquei sozinho na área reservada ao Grêmio, todos os demais desceram para o campo. E eu ali, olhando para as paredes, pensando em como o clube iria enfrentar o futuro, mais um ano na segunda divisão. Mas há uma cena que eu jamais vou esquecer. Quando o jogo terminou, um casal de torcedores do Náutico, com seus três filhos, que estava próximo de mim, simplesmente me aplaudiu. Apesar de toda a frustração pela derrota, eles tiveram esse gesto de nobreza."

Luís Henrique Benfica, repórter de Zero Hora"Ainda hoje é possível lembrar da tensão que envolveu o jogo. O Grêmio, que havia se concentrado em uma praia distante 39 quilômetros de Recife, só sentiu o verdadeiro clima da partida ao chegar aos Aflitos. A entrada no estádio já foi complicada. O ônibus foi cercado por torcedores e trancou no portão, que demorou demais a ser aberto. O sol de 35°C batia direto sobre o teto do vestiário e o suor escorria no rosto dos jogadores. Além disso, o cheiro forte de tinta era insuportável _ as paredes recém haviam sido pintadas. O nervosismo aflorava. Expulso, o zagueiro Domingos inconformou-se e destruiu o banheiro do vestiário a socos e pontapés. A paz só veio depois do jogo. Antes hostilizada, a delegação saiu sob aplausos dos Aflitos. Ninguém dormiu de sábado para domingo, mesmo que o voo fosse cedo. A madrugada foi de comemorações, com os jogadores se jogando na piscina. O Grêmio estava salvo."

Patrício, ex-lateral do Grêmio"O momento que o ábitro marca o pênalti, eu estou de frente para a bola, e a bola bate no Nunes, mas nitidamente ele está se protegendo. E eu vi que não foi pênalti. no impulso de uma reção, de querer fazer alguma coisa, num gesto de torcedor, de proteger sua equipe, eu tomei essa atitude (empurrar o árbitro). Quando eu vi, um policial se atira em mim com o escudo e me dá com o joelho na barriga. Eu caí meio desacordado. Eu só lembro que o Cacalo me levantou e começou a me levar para o vestiário. E eu não queria. Era aquele tumulto, aquela briga toda"



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