Sempre queimei meu passado na churrasqueira, já falei isso uma vez, num
dos meus textos que lanço por aqui, que os vizinhos do meu irmão uma vez
chamaram os bombeiros, porque a fumaça que saia da churrasqueira dele era coisa
séria, queimei até a foto da Rê, uma amiga muito querida, mas é que ela estava
de vermelho e tinha feito aquilo para me provocar, assim como tantas outras,
porque eu não gostava das artimanhas que ela fazia naquela época, da cotovelada
que ela me deu na barriga, porque dormi no sofá da sala dela, enquanto ela
conversava comigo. Depois disso ainda teve a história do perú de Natal, que eu
havia me esquecido do que melhor ela tinha feito para mim, ela era uma mulher
surpreendente mesmo, com pétalas e rosas me levando até à cama dela. O problema
daquela mulher é que ela me deixou solto na Avenida e depois que a gente toma
conta da liberdade, ninguém mais pega, por maior que seja o sentimento de
romantismo e amor que existam entre duas pessoas. Ela só teve uma oportunidade
de ficar comigo e não soube aproveitá-la, certa vez ela me viu com uma outra
amiga num restaurante, me cumprimentou, mas não se aproximou, não quis saber e
nem perguntar de onde havia saído aquele relacionamento, já que eu havia jurado
amor eterno, antes de queimá-lo na churrasqueira e o fedor se exalar por toda
vizinhança. Eu sempre tive um poder muito forte de tirar as mulheres da sala de
espera e coloca-las no mundo, dar o verdadeiro valor a elas e saber fazer
entender o que um Homem espera de uma mulher, elas sentiam poderosas.
Depois que consegui me livrar daquele relacionamento maldito, que me
levou muito da minha personalidade, das entradas do meu rosto e dos meus
cabelos brancos, eu fiquei vacinado se sabedor de que poderia ser o mesmo, e
que nada mais me atingiria, de que eu era um inatingível, um superpoderoso e
acabei me dando conta de outras coisas em relação a isso, de que eu não me
relacionaria nunca mais um ex, por convicção e por tradição que eu mesmo me
impunha, seria uma filosofia de vida e que está bem resolvida e determinada,
gosto de todas elas, eu nunca poderia ser amiga delas, porque sempre
representaram o meu melhor.
Era quarta-feira, eu vinha chegando em casa ali pelas 19:30, cansado,
havia ainda passado no supermercado e estava pensando que poderia descansar uns
dez minutos antes de ir à academia, quando chegando no segundo vão de escada,
escutei a discussão e não acreditei, briga de marido e mulher, vizinhos, com
criança presente que ficou quieta apenas escutando a discussão, o apartamento é
pequeno, não tem muito como se esconder mesmo. Fiquei pensando que nunca
briguei com minha mulher, primeiro porque raramente havia motivos para isso, eu
era uma pessoa do bem, mas sempre tive amigas que criaram até cenas de ciúme
por minha causa e coisa de doida mesmo, por causa do whisky, por causa da TPM e
principalmente, por que passaram com os maridos anteriores, mas acho que
situação ruim mesmo, é quando alguém quer deixar de ser a amante para ser a
mulher de verdade, com quem se tem família se sociedade, quando o Homem mesmo
pouco se importa com isso, até porque a mulher esposa é que se teve os filhos e
a mulher mante é aquela a que se desenvolve tudo na parte íntima, a que vale a
pena estar junto na intimidade, porque é com essa que a melhor parte transborda
do Homem, pedaços de real beleza de relacionamento, mas que nem sempre acabam
bem por causa da cobrança e de tudo aquilo que se esperava do relacionamento e
que não vem acontecendo nos últimos anos de convivência, de não poder passar os
Natais, feriados e datas importantes, mesmo que se tenham trocados juras de
amor incondicional, tudo muito perdido em cômodas de areia que nunca deram
praia.
O Homem que empareda a sua mulher, ou melhor, a sua ex-mulher, é porque
perdeu a esperança, eu sei muito bem o que é isso, não é como não conseguir
aceitar a perda, é um sentimento que se abre e não consegue mais encarar de
frente, é o total desprovimento do que é real e do que é imaginário para uma
relação, não deveria ser assim, é não estar preparado para perda de uma
aceitação de que o relacionamento não está mais ao alcance, ou seja, de que não
se terá mais como alcançar o elo perdido e se fosse possível, demorariam anos
para se recuperar aquilo que a mulher já não tem mais interesse, cuspiu fora a relação,
porque cansou sabe-se lá de tantas tentativas de fazer a relação mudar, ou até
mesmo porque encontrou algo que valesse realmente à pena, é de fato, a não aceitação
do óbvio, de que a relação chegou ao fim, não temo mais como continuar, por
qualquer promessas que aconteça da parte dele, e o ato desesperado de pior do
que não entender e não aceitar, a perda dolorida e irreparável de que não foi
capaz de mudar por causa daquele amor incondicional.
Emparedar uma mulher é como esquartejar o namorado e coloca-lo em uma
mala, atravessar a cidade com o defunto e jogá-lo no rio para não ser
descoberta, outra é jogar num valão com lixo, dando sentido da podridão que era
aquela relação. Os Homens precisam para evitar que qualquer coisa dessas
aconteça precisa, necessariamente, contar a sua história, para depois queimá-la
na churrasqueira até o ponto de chegar a dizer: foi melhor assim!
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