sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

À mudança

Em homenagem as belas palavras de Lourenço À mudança Era noite, não me lembro bem que horas, eu já não sabia mais o que fazer dentro das circunstâncias, apenas esperar a ligação de meu irmão para mais um choro de lamentações, de ambas as partes, mas ocorre que eu não poderia mais esperar até agosto, teria que tomar uma providência, já que o consultor já havia me dito o que fazer. Sendo assim, resolvi tomar uma posição e ir ao encontro da situação, eu estava de férias, daquelas que os primeiros dias a gente só quer ficar deitado sem fazer absolutamente nada e esperando que a vontade apareça, aquela vontade de tomar café ao meio dia, completamente fora dos padrões de qualquer pessoa normal, eu precisava então resolver a situação de qualquer jeito. Entrei no escritório da imobiliária e botei as cartas na mesa, eu ia começar a choradeira, preparei até o discurso, mas é que quando ele abriu o contrato na minha frente e disse que o contrato vencia naquele mês mesmo eu quase desmaiei e imediatamente mudei o discurso, de que então estava tudo certo e que no dia 01 eu entregava a chave, ele me disse que tinha que ser pintado, só havia mais 15 dias de férias, eu teria que fazer uma mudança em 15 dias para dois locais diferentes, um sendo a base e o outro a intermediação entre a ida e a vinda do trabalho e do romance, isso eu nunca tinha feito, ter dois locais de mudança, mas porque seria isso necessário naquelas alturas? De imediato comecei a separar as tralhas, eu achei que ia ser fácil, não tinha mais mesas, cadeiras, geladeira, fogão, microondas, somente aquele espelho que me acompanhava há mais de vinte anos, quando eu ainda tinha interesse pela minha mulher, e as poltronas, aquela azul, da qual escrevi um texto uma vez sobre a capacidade de alguém colocar fora um produto e o outro ir lá comprar, somente para não ter que receber de uma pessoa em estado alienado. Parecia não ser muito, uma cadeira, um som, dois quadros grandes e muita, mas muita tralha, tijolos que serviam de sustentação das prateleiras, dvd´s, cd´s, livros e um infinidade de roupas que não acabava mais, o que fazer? Foi feito em mais ou menos três dias todo aquele imbróglio e nesse meio tempo, não precisa dizer o esforço físico e mental, para atender tudo, as férias iriam passar como se fossem trabalhando e o desgaste seria físico e não mais emocional e de inteligência burocrática, teria que fazer os contatos com as pessoas que seriam envolvidas, que precisariam estar dispostas e fazer mais uma vez aquela ladainha da mudança. Dessa vez diferente, porque a gente já vinha desgastado das outras e tinha que ser feito tudo em quinze dias, era muito pouco tempo para resolver tudo, detalhadamente, depois entendi que a mudança de contrato ocorreu porque rezei muito, me agarrei nos pés de Jesus CRisto, por fim, beijei os pés de Maria, e então as coisas foram acontecendo assim, sem eu mesmo me dar conta. Eu deveria ter feito um diário dos acontecimentos, porque eu ainda precisava falar com uma das bases para dizer o que ia acontecer, precisava limpar essa base e prepará-la para chegar das tralhas que insistiam em permanecer comigo sabe-se lá até quando. Durante esse período, as negociações foram realizadas e o pintor foi contrato, junto ao consultor para fornecer os dados de como equiparar as contas da mudança ao quadro financeiro e afinal saber, aonde eu iria morar. Nunca é uma decisão fácil, quando me vi nos últimos dias, estava no meio da ERS-040 pegando um ônibus para Porto Alegre e talvez ainda precisasse fazer uma baldeação no meio do caminho, e as coisas acabaram acontecendo ao natural, o dia da mudança um dos meus colaboradores estava realmente preocupado com a filha, que vinha sofrendo bola nas costas de um antigo "afair" e que ele estava tendo que interferir naquilo, perdeu um dinheiro razoável porque queria ver a filha feliz, eu notava isso, ele investiu pesado naquele romance e agora aquela extorsão requeria uma dose de paciência muito grande, ele estava quase calado a viagem toda, nós que sempre falamos e muito, mas acabou tudo bem, pensei que ele ia me oferecer dinheiro para resolver aquilo, mas eu não iria aceitar, gostava da presença dele, porque aquilo era o mais importante a gente resolver juntos, como nos velhos tempos. Liberada uma das bases em uma manhã de muito trabalho, em troca, um carreto e um almoço, que o meu amigo aproveitou e já fez no mesmo dia. Foi aquele leva e trás e no meio do caminho, eu novamente, parado na BR esperando qualquer coisa passar, para voltar a Porto e tomar um chopp, no que eu só pensava cada vez que trabalhava incessantemente. Por fim, depois da limpeza de uma das bases, foi triste ver todo espaço ocupado novamente, e ter que novamente fazer uma separação no mesmo ambiente de recepção há cinco anos atrás, eu teria mesmo, muita história para contar. No dia da pintura, tudo ocorreu certo, até a hora da entrega do final restante em uma das bases, quando a tinta virou no carro do meu filho, metade do galão, e o local que era até perigoso de permanecer por causa de assalto, ficou sendo o centro da limpeza do carro, até ficar mais ou menos limpo e ele conseguir sair daquela situação, fica a lição, por mais que tu te concentre, você tem que estar atento aos sinais, estar sempre focado, o carro estava lotado e até o violão ficou como sendo uma forma de esperar os acontecimentos, ficou com ele, mas o destino foi cruel comigo, me exigiu que ficasse com o violão e pedisse de volta, uma enrolação bem difícil de convencer qualquer um. Com isso, o frigobar voltou a funcionar do nada e agora eu estava pronto para me adaptar a minha nova velha vida, onde tudo começou há cinco anos atrás, quando resolvi deixar essa vida de bens materiais e virar escritor do cotidiano e das síndromes que vão se transcendendo uma a uma, para que se tenha toda as narrativas contadas em relação a uma vida que se decidiu tomar uma questão de amor e desapego, da qual vale a pena conhecer dia após dia. A imobiliária ainda exigiu que eu fizesse a limpeza do imóvel, e lá fomos nós novamente, eu e meu filho, para realizar a limpeza do banheiro e da cozinha, ainda quando entreguei as chaves em dose dupla, paguei o aluguel em duas vezes, mas agora ainda não tenho certeza aonde estou morando e trabalhando nos meus textos e nas minhas negociações que a cada estavam se tornando mais eficazes, no entanto, era necessário ser mais persuasivo em relação a isso, mas esse é um estabelecimento de outrora pode se entender diferente, o momento agora é de organização e de descanso, já que no trabalho ainda estamos em situação de calmaria após os primeiros dias de retorno das férias. Esses dias resolvi passar 4 dias em uma das bases, procurei achar algumas coisas como o sabonete e as cuecas, enquanto a base um lavava tudo que estava pela frente, dormi no ar- condicionado uma noite de muito calor e aproveitei um chuveiro que estava a disposição, já que a resistência que comprei deu problema, modifiquei a plataforma de transporte e acabei entrando no vale transporte intermunicipal, ainda tenho que saber ao certo, onde vou contribuir e em que condições isso vai acontecer financeiramente, já que no universo de relacionamento a situação melhorou muito após a minha aproximação quase que diária com Cristo, e agora a serenidade de que as coisas podem se resolver com a força dele na minha fé. Acredite!

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