sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Briga de estagiários...

Era pela manhã, isso eu me lembro, a gente usava uniforme para atender, eu estava de blaser, era bonito, camisa de motorista de ônibus, de manga cumprida, calça de cobrador, azul marinho, invariável, era sempre assim, tinha um par de cada. Não estava frio porque a gente não estava usando a blusa com o nome da empresa, eu estava atendendo uma senhora com toda atenção, inclusive conversávamos sobre assunto adverso do que ela pretendia, mas sei que não era apenas uma segunda via, exigia uma atenção maior, até porque era uma mulher bonita e do tipo que se arrumou para comparecer a um atendimento e um atendente como eu, que presto bem atenção nos detalhes femininos, olhos famintos, mas dessa eu só me lembro que usava óculos e era morena. Quando de repente, sem nos darmos conta do que estava acontecendo, a estação de trabalho veio abaixo, literalmente, só deu tempo de eu sair, fazer a volta e verificar o que estava acontecendo. Os dois estagiários, brigando a socos, o menor deu uma gravata no maior, coisa impressionante, e estaca começando a dar na cabeça dele, tipo esses cascudos, coisa muita séria, foi quando percebi que inclusive o vidro da estação havia sido quebrado, saí dali apavorado e chamei o guarda: “chama o guarda, chama o guarda...” era o Luís, lembro bem dele, porque a mulher dele ia lá vender as coisas paraguaias, era o maior informante do posto, mas saiu de lá porque a funcionária, que ele adorava e ficava mandando e-mails para ela, pediu para que ele desligasse a câmara do posto que ficava mirada para ela, e ele fez. Como punição mandaram ele para um posto avançado na pqp...eu sei que depois que ele me escutou, tal eram os meus gritos, largou o avental imediatamente (naquele exato momento ele estava temperando a lentilha para o almoço) e se atirou para frente do posto verificar o que estava acontecendo(a chefe não estava porque tinha ido almoçar no frango no cesto), com ele, também saiu correndo para ver o que estava acontecendo, o advogado de plantão, que estava ali mais interessado em resolver seu problema de casamento, passava por uma fase difícil naquela época por causa do síndico e suas constantes brigas com ele, por influência da mulher é claro, que passava o dia em casa e acabava arrumando encrenca para ele que havia trabalhado o dia inteiro. Eu sei que os dois estagiários foram separados, pelo guarda e pelo advogado, um se demitiu naquele dia mesmo e o outro uma semana depois, ninguém agüentou mais aquele tipo de coisa que fizeram com eles. Era o primeiro e talvez o único caso que tenha acontecido em toda minha carreira profissional, mas não pude deixar de perguntar o motivo. Um deles me disse que vinha recebendo provocações do outro fazia horas, dizendo que ele era riquinho, com roupas caras e metido a besta, que ia juntar uma turma lá na Tinga e ia “cagar ele a pau, na linguagem dos malucos”, como diziam, eu já havia trabalhado com esse menino antes, e sabia que ele era audacioso, mas a esse ponto, de perder a cabeça...depois daquilo fiquei meio com medo dele, de andar armado ou coisa parecida, sei que ele me gravou um cd do show da Ivete Sangalo no Maracanã...aquele vidro custou caro, e eles queriam saber se eu ia pagar pelo mesmo. Cada uma.

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