segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Inspirado na crônica de L.F. Veríssimo de 17/12/2016

Acho que pior do que não viver o sonho e a imaginação é vivê-la, mas quando, no meio da noite, você acorda e está na escuridão e pensa: aonde estou? Então você torce, pede, implora, deseja ardentemente, que esteja na sua cama, no aconchego do lar, quando então toma coragem e acende a luz ou liga a lanterna do celular, quando se dá conta que não está em casa, que não é a sua cama, que está longe da sua vontade, de que terá que voltar pra onde mais queria estar, no seu quarto, na sua cama, com a sua mulher. Eu sei que é confuso essa situação de estar em vários lugares na mesma hora, mas descobri que na noite tudo é uma grande incógnita, minha mãe passava procurando por ele, de onde ele vinha, aonde ele estava, a porta às vezes ficava trancada, agora eu tento entender o que ela procurava, aquela perda de tempo, aquele cheiro de fumaça de cigarro barato, que atravessava todos os poros, nem eu aguentava aquilo quando ele dormia comigo; eu sei que ele não fazia por mal, mas aquela vida de homem caseiro não era a dele, ele gostava de uma jogatina, provavelmente as mulheres se incorporaram depois, o que a gente tinha que ter em mente, era de que tudo não deveria passar de uma noite num motel e depois uma noite na casa ou no quarto, escondido de todos os preceitos de como as coisas deveriam ser. O que acontece na verdade, é que as transas poderiam acontecer dentro de um drive-in, porque aquilo era apenas emoção, mas como explicar isso para uma situação que na verdade não se enxerga de fora, se está participando intensamente, em todos os instantes da mesma forma que a gente sempre previr que poderia acontecer. Viver uma vida dupla, tripla e sem consequências maiores, porque o modelo era outro, não é como era agora, como devolver a quem de direito tinha a sua vida delimitada apenas por um universo que não haveria a melhor possibilidade de coexistir? Na realidade tudo começou muito mal, porque o melhor mesmo era dizer o que iria acontecer e o porque que as coisas não davam certo. quando aconteceu dela dizer que queria dançar comigo, eu deveria tê-la chamado para fora e dito que a gente não precisa passar por tudo aquilo, na frente de todos, que ela voltasse lá para dentro, esperasse mais umas duas músicas que eu iria lá e discretamente iria lhe tirar para dançar, daria um beijo na face dela e ela iria atender o meu pedido. Eu por consequência, no auge dos meus 15 anos, teria que arrumar uma forma de tomar uma dose de qualquer coisa para encarar o desafio. Chegando ao quarto entrando conversando com a minha prima, onde eu pediria que ela me desse cobertura, ela entraria no quarto conversando comigo, eu avistaria ela, com aquela cara deslavada e de pau, querendo como provar alguma coisa para todos, então eu me dirigia até ela, pegaria sua mão, levaria para o meio do salão e colocaria suas mãos no meu pescoço e a abraçaria como se fosse de uma paixão de dar dó, emocionadamente, e durante a música lhe diria uma coisa apenas no seu ouvido, eu quero te namorar até o fundo da tua boca, mas que ela me procurasse depois, quando o aniversário terminasse, pois eu não gosto de me mostrar em público, falaria ao seu ouvido que iria sonhar com ela, beijando-a ardentemente, todas as noites, e quando ela quisesse e estivesse sozinha, me chamaria na sua casa para provar da sua umidade mais profunda. Eles todos, nunca mais seriam os mesmos.

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