Essas
nossas conversam rendem hein?
Sempre me fazem
pensar no dia seguinte. Eu tinha um amigo que depois que casou só me procurava
para farra, a mulher dele ia viajar ele me ligava, eu achei estranho aquilo. Eu
perguntei aonde estava a mulher dele, na hora, pelo telefone, e ele disse que ia
viajar, ou seja, só nessa hora ele aparecia. Então, nunca mais nos vimos, ele
tinha medo de sair e quando chegasse em casa a mala estivesse na porta. Eu tive
uma amiga que fez isso com o marido uma vez, era doida da cabeça, depois ficava
perambulando procurando sempre alguém parecido com o cara. Então amigos são
assim, eles nos procuram para a gente escutar e dar opinião sobre a crise do
relacionamento e a gente joga a favor, dá os melhores conselhos, ensina os
atalhos e depois eles somem mesmo, principalmente quando aparece uma
mulher na parada. Eu sempre fui o mais divertido dos meus amigos, porque sempre
tive muita história para contar e sempre tudo acabava bem. Eles se surpreendiam
com as minhas atitudes, era realmente tudo muito engraçado porque a gente vivia
uma coisa que era o futebol, escola, faculdade, PUC, e amadurecemos todos
juntos até a hora da separação de cada um. Eu me casei com 23 anos, quem é o
doido que faria isso hoje em dia. Eu saí de casa, porque na nossa época a
pressão era demais, não dava para levar namorada e dormir com ela lá, tua vó
teria uma crise existencial, chamaria elas todas de vagabundas para baixo. Sem
falar nisso, metade da grana que a gente ganhava no emprego tinha que ajudar em
casa, a tua pegava o dinheiro e revertia em ajuda para nós mesmos, mas eu sei
que não dava para ficar bancando a metade em casa e o resto com as mulheres e
as prostitutas, estava na hora de sair, porque se não as pombinhas se mandavam
também. Eu não me casei, eu construí do zero, primeira coisa que comprei foi um
faqueiro, depois vendemos o carro que eu e a tua tia tínhamos para viajar e
montamos um ap. não casamos, foi um dos grandes erros que fizemos, na verdade
eu não queira casar e acabamos sendo obrigados a que isso acontecesse.
Então a conversa
seguiu por aí, por esse caminho, eu acho que tudo isso que a gente vê agora e
discute é porque as coisas estão acontecendo na nossa frente e nem sabemos
muito bem como lidar com isso, sobre o que ficou para trás. Me lembro que o Zé também
não quis seguir a Engenharia, nem fez concurso pela questão da competência
talvez, o cara tem que se sentir competente para entrar no ramo, acho que é
isso. O vizinho tinha uma mente privilegiada, mas com aquele gênio dele, não
arrumava emprego, virou professor, e acho que de Cálculo, matemática e álgebra,
ele era muito bom mesmo, mas foi até lá que ele chegou, todos esperavam muito
dele, um gênio da engenharia elétrica. Sempre é momento de rever conceitos e
adequar novas plataformas, assim como eu, vários não seguiram a profissão, não
me arrependo e acho que poderia ter sido um bom arquiteto se tivesse passado na
UFRGS, foi uma decepção para mãe não ter passado lá, mas enfim, a vida
continua. Quem sabe tu não vai acabar mesmo é abrindo uma banca de revistas no
Rio...a gente nunca sabe. O pai achava que eu não ia me formar, do jeito livre
que eu era; me formei em 86, ele morreu em 84, não adiantou mais nada provar
alguma coisa para ele, o pior de ele ter ido embora tão cedo, foi que ele não
me ensinou os diversos atalhos que eu acabei sabendo levantando e caindo,
caindo, levantando, caindo, levantando...ele poderia ter me dito uma forma
melhor de não cair tanto. Mas os nossos caminhos somos nós que traçamos, me
lembro que uma vez ensinei a filha da minha empregada, equações e inequações
matemáticas, para uma prova de matemática, que ela tinha no Protásio...a gente
faz isso porque eu penso como tu, a gente sabe o que passa quando não sabe a
quem recorrer. A vida que a gente não sabe aonde foi parar.
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