AQUELES TEMPOS
apaixonava-se
sem controle
sem controle
naquela fase da vida
era seu tesouro
era seu tesouro
o mais importante
colecionava
amores mal-sucedidos
amores mal-sucedidos
portas fechadas
para o coração
para o coração
não desistia
vestia a alma
com seus melhores trajes
com seus melhores trajes
e saía a flanar
pela noite
pela noite
predador urbano
carente & gentil.
carente & gentil.
Ricardo Mainieri
Nelsonpoa:
Nelsonpoa:
Essa vida de poeta ás vezes se
confunde com a realidade, talvez faça tanto tempo que nem é possível lembrar
com clareza, apenas introspecções. Naquela época namorar não é como hoje,
amores e romances sérios era uma verdadeira coincidência do destino, a gente
era pobre e gostava muito, mas muito mesmo de mulher, o que dirá de namorar.
Embora elas sentassem no nosso colo, a gente não tinha a melhor noção do que
representava aquilo, deveria ter se aprofundado, numa época que nada podia, nem
se arriscar era salutar e muito menos não havia receita suficientes para que
isso fosse ocorrer, a gente acaba enjoando daquilo que a gente não tinha. Já naquela época a gente já havia de ser
muito mais audacioso, e como esquecer o primeiro beijo, ela perguntando como
iria se despedir, quando a mulher é corajosa e se impõe, a vitória masculina é
muito mais do que suficiente, é uma missão cumprida e realizada pelo ego
inflacionado de situações desastrosas. Tudo é uma surpresa, colegas se
declarando em plena sala de aula, sem ao menos a gente saber porque não
dormimos com elas ou pegamos na mão delas, nos bastava olhar as pernas e
fazermos trabalhos em grupo, sem qualquer vinculação à orgia. A gente era
esperançoso, não era perfumado, porque não tinha dinheiro para tal, não bebia e
não se arriscava além das nossas fronteiras, porque a gente não beijava elas na
boca? Na grande verdade, os primeiros romances, aos 17 anos e elas com quinze,
a inexperiência masculina é tão ruim ou pior que a das meninas que naquela época
flertavam muito mais, sem que ninguém soubesse, havia uma forma de se esconder
que não era brincadeira de criança, a gente devia ter se apaixonado e largado
os estudos de lado, mas a razão nos entorpecia de uma paixão por não saber
muito bem o que, era tudo uma grande falta de sensibilidade e da certeza se
deveríamos amar ou nos entregar para a nossa própria ilusão. Senhores de si e
carentes de nós mesmos, procurávamos abrigo na parada 48 do Cantegril, nos
travestíamos de Predador Humano, até a chamada JP, onde subíamos a escada
carentes para amar, a gentileza reinava e o abalo financeiro se consumia num
final de noite abraçados a nossa própria sorte.
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