quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Minhas cartas - 10/07/1990

Porto Alegre, 10 de julho de 1990.

Nelsinho, pensei muito para te escrever, sofri como nunca, chorei rios de lágrimas, me torturei, morri para sempre, agora sou como uma pedra que existe apenas porque é preciso. Pensei em te procurar, cheguei a tentar te achar, mas resolvi me isolar e tentar, apesar do sofrimento, encontrar (com a razão) a solução, o fim da minha tortura. Foi então que decidi te devolver a paz que roubei, a qual, de igual para igual me roubastes.
Sabe, é uma incógnita para mim o teu comportamento, escreves coisas lindas, poéticas, chocantes! Realmente comoventes, mas não demonstras, ao contrário, teu comportamento prova o contrário; como podes encontrar tempo para o Jaimes,para teus amigos, para as festas e para mim não?! Porquê? Estás me fazendo sofre demais, estás me matando, Nelson.
Acho lastimável, mas não consigo te amar como antes, hoje eu te amo com egoísmo, sem limites, te quero comigo, ao meu lado, com pressa, sem desculpas, só quero a tua presença de forma constante, sem medo, sem dor e sem culpa. Os momentos não satisfazem mais...
Como me doeu aquela sexta que fomos ao apartamento da Vera, fiquei (só) afogando minhas mágoas, enquanto tentavas te recuperar da ressaca da noite anterior, ainda assim, superando a dor, entreguei-me em teus braços, tentando acreditar que o importante era o momento.
É, o amor é tão grande que está me sufocando, o desejo de estar contigo está se tornando neura e estou morrendo aos poucos, por isso achei melhor morrer de uma só vez.
É, talvez estejas cansado das tempestades como eu, das tentativas de superar nossas dificuldades, dos planos que se alteram sem se quer haver a tentativa de coloca-os em prática. O que eu posso fazer? São nossas vidas em particular que impedem. E eu sofro, sofro demais com tudo isso. As palavras pela metade, dos sonhos desfeitos...
Eu te amo cara, te quero, te quero!!!!Mas tenho um filho, um pai, compromissos, planos, preciso me realizar pessoalmente, preciso ser gente outra vez, assim como tu, eu preciso de paz para prosseguir minha caminhada, e se não posso contar com o teu apoio moral, teu incentivo, rua "presença", tudo vai abaixo com as tempestades, logo, se eu morrer, me coração vai poder se só, como uma pedra passa pelos obstáculos.
Se eu pudesse ao menos sentir em ti, na tua pele a intensidade do teu sentimento por mim, o qual defines tão maravilhosamente bem no papel, eu lutaria por ti até a morte (que seja infinito enquanto dure?). Para mim será eterno. Pois ninguém mais vai invadir meu coração como te permiti invadir, jamais me deixarei sofrer como sofro hoje, jamais!!!
Fui pedra por mais de dez anos, posso ser por mais de 100. Meu sentimento, meu amor, pretendo distribuir para todos que convivo de forma fraterna, é por isso que as pessoas gostam de mim, porque amo a todos sem discriminações e sem intenções, apenas para ter paz. Vou me dedicar ao meu filho, e a ele vou amar com força e intensidade, pois esta é a forma mais pura, sem cobranças, sem dramas...
As mágoas serão sufocadas com o amor que tenho por ti, pois o espaço que ocupas no meu coração será sempre teu, e lá vou te guardar com todo o carinho, e o tempo vai ser útil para eu recordar os bons momentos, terei uma bela história para contar aos meus netos...E a Deus, tenho que agradecer a oportunidade de que me concedeu; aliás, Deus tem muito a ver com tudo isso, e eu tenho que cumprir o que prometi: fizemos um acordo: ele me daria o direito de amar alguém especial e eu aceitaria a condição de quando não houvesse mais como prosseguir eu entregaria os pontos.
Entre outras, eu quero que saibas que fostes de fundamental importância na minha vida, pois contigo evoluí meus conceitos, me fiz mais mulher, me redescobri nos sonhos, voltei a acreditar que a música é um alimento para a alma, voltei a insistir com a vida, impor meus ideais. Enfim, me desde vida, bem como me roubastes...
Minhas palavras são um pouco de otimismo, um pouco de mágoa, um pouco de desabafo, de desejos, de saudades, de desespero, de coragem; muita coragem, pois abrir mão deste sentimento do homem que amo, é preciso muita coragem, muita coragem...
Tenho fumado horrores, não tenho dormido e choro de graça, qualquer música que fale em perda, amor ou outra qualquer do gênero, que me faz chorar comovida...Acho que por outro lado tenho que me ver feliz por tudo isso, pois não é qualquer um que tem o privilégio de sofrer porque ama. Antes sofrer por amor demais do que sofrer por nunca ter amado.
O que estou fazendo é contra minha vontade, mas sei que é certo. Pude interpretar bem quando li:  "Quando mais tarde me procures, quem sabe a morte, angustia de quem vive, quem sabe a solidão fim de quem ama, não possa te dizer do amor que tive, que não seja imortal, pois que é chama, mas que seja infinito, enquanto dure.
 Acho que no desespero de tudo o que escrevi quis dizer o mesmo que resumistes nestas poucas linhas. Quero te falar de amor, mas sei que não é mais o momento talvez, o que quero mesmo é te recuperar, mas já é tarde, e não estou certa de que possa valer a pena. Na verdade estou me machucando mais.
Os cartõezinhos dizem tudo.
Ficastes com minha camisa de recordação, eu gostaria que quando puderes, me manda algo teu de uso pessoal, pode ser um pé de meia, que eu quero guardar.
Meu amor, dorme em paz, pois estou te devolvendo a vida e a paz que te roubei.
Nada do que disse foi com a intenção de chantagear, nada disso, apenas abri meu coração, falei o que fluiu, desabafei.
Desculpa os erros de ortografia, acentuação, pontuação, distribuição...
Te amo! Não esquece

Com muita dor

Tchau

Vani

P.S. Acredito em Deus e preciso dele agora mais do que nunca.
Quero que saiba, se precisares de mim, se eu fizer falta e se for para te ajudar, podes contar comigo.

"Te visitarei em teus sonhos, e
e velarei o teu sono.
E proteger-te-ei da chuva, que a chuva são lágrimas
dos anjos que não conhecem o amor terreno."

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