terça-feira, 17 de março de 2015
Último Horário
Sempre fiz um comparativo na vida de um escritor em relação ao que escreve um poeta, na sua condição de inspiração e de, principalmente, meditação. Os versos precisam ter uma consistência de combinação que faça que as rimas combinem, mesmo sem a menor homogeneidade. Por isso acho o trabalho do poeta muito mais difícil, do que o escritor de contos e crônicas, já que este vive do seu imaginário inconsciente, pode se dar ao luxo de inventar e misturar padrões que não tenham a mesma intensidade e que apenas mostrem a passagem de um cenário. Já o poeta ele é todo desejo e vontade de que as pessoas se sintam no mesmo cenário, participando do seu momento e da execução da sua obra, ele não pensa em si propriamente, ele precisa a aceitação da sua realização que é a divulgação do seu poema, como forma de reconhecimento, já que seus poemas são do mundo.
Último Horário
Inverno
o vento vibra
num assobio desafinado
janela entreaberta
do último ônibus da madrugada
enredado
numa teia de sono e cansaço
ele dorme e sonha
com uma vida mais plena
indiferente o coletivo
lentamente
rasga a geografia da cidade
Ricardo Maineri, é um dos melhores poetas gaúcho que conheço, é de um profundo conteúdo e reflexão, pode ser acompanhada através do Facebook, ou pelas poesias dos ônibus em Porto Alegre.
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