sexta-feira, 22 de maio de 2015

A efervecência dos anos 80

Pois eu sei de umas pessoas que se reúnem só para curtir essa época, eu diria que poderia ser considerada uma época de ouro, de como as coisas aconteciam e isso que não tinha internet e nem celular, aí sim, se tivesse, às coisas iam realmente bombar. Os discos chegavam de avião e eram trazidos pelos pilotos e até hoje se fazem festas que sempre começa nessa época, porque o resto, bem é uma outra geração, uma outra década. Nessa época eu tinha um 3 em um Aiko, gostava dessa marca, a mesma do meu primeiro gravador, passei um mês trabalhando no J.H.Santos para comprá-lo, um estágio que já me dizia que a minha vida profissional não seria fácil. De qualquer forma, o que era para a mãe pagar metade, em vez de receber 1.000, recebi 1.800, de tanto que trabalhei, como eu gostava do que eu fazia. Trabalhava no cadastro, era um doideira. me lembro o nome do meu chefe, Sérgio, que me rasgava de elogios. Eu comprava os discos que tinha a ver com a minha cara, mas devido a influência do meu irmão, eu também gostava de música francesa, italiana e portuguesa. Isso me faz lembrar do “toca discos” dos meus irmãos na época que eu era pago para arrumar as camas e varrer os quartos, uma vez por mês passar o pano, eu tinha salário, mas não tinha os benefícios da CLT, como férias e 13º, tudo era muito relativo e às vezes ainda tinha que acumular funções como a louça, todos éramos homens e as empregadas não duravam muito mesmo, uma vez a mãe resolveu contratar uma que tinha dezesseis anos que não durou uma semana, tanto era o medo que ela nos deflorassem. A mãe tinha essas idéias de vez em quanto, tentar realocar alguém lá para casa, para poder ajudar, dar ensino, roupas e só tinha um problema, era eu, que além de ciumento, não gostava das mulheres que ela trazia, geralmente da Vila Pimpolho. Lembro que teve uma que me dava uma repulsão muito grande, Cristina, era irmã de um amigo meu, que depois foi trabalhar na Aeronáutica, a mãe dele só de pensar que o filho um dia ia embora quando soubesse que era de criação, com certeza, morreria, conta a história de que a mãe biológica, uma vez foi na rádio Farroupilha, tentar encontrá-lo, citou o nome de uma tia minha que esse dom, de ajudar as pessoas, e acabar separando a mãe do filho sem um meio que não fosse o da justiça, acho que até o nome da mãe apareceu naquela história, embora ela não tinha nada a ver com isso. Acho até que a Esferzinha muito do que passou com os filhos tem a ver com essa questão que ela lidava com as pessoas que pediam a ajuda dela, até o casamento dela era meio inexplicável. E falando em casamento, uma vez ela levou um tapa na cara do marido, que era militar, em um dos casamentos que eu fui nessa época. E colocava aquelas músicas tão altas que até o vizinho escutava no andar de cima, meu grande amigo João, além disso o nosso local de encontros era sempre lá em casa, porque a mãe e o pai iam viajar sempre nos finais de semana, liberando a casa para mim. Num desses imbróglios, acabei dormindo com a minha mulher em casa, e acordamos às onze da manhã, com a chegada dos dois, só me lembro dela se levantando pelada da cama, apavorada, inventamos uma história que eu estava doente e a mãe nos expulsou imediatamente do local, chamou ela de vagabunda na cozinha, enquanto ela me esperava para a gente ir embora, no quarto. Ela não gostava dela no início, mas também, eu era o caçula e o último que ia sair de casa, devia ter ficado lá até o final dos anos 90, era o ideal, mas não saí de lá em 83, quando o Grêmio foi Campeão Mundial e deve ter sido escrita aquela música do Nenhum de Nós que fazia referência a um romance que tenha acontecido em julho daquele ano, linda música, bela melodia. A máquina de escrever ainda bombava nessa época. É claro que todos temos muitas histórias para contar, quem viveu nessa época, e essa que vou contar, ela é triste e nos transformou em adultos e desconfiar de tudo que a gente entendia como certo e justo naqueles idos. Foi na despedida de um clube que a gente freqüentou muito naquela época, Caminho do Meio, tinha também o Independente, um pouco mais de nível, o outro, um inferninho onde dava de tudo, naquela época também tinha o Gauchinho, AABB e a boate do Gaúcho. Mas foi no Caminho do Meio que aconteceu o incidente, eu trabalhava numa empresa pública, e estava indo para o Rio de Janeiro de Férias naquela semana, quando fui convidado para aquela despedida, não partiu de mim aquela idéia, meu vizinho e seu amigo, Wong, haviam combinado de encontrar umas gurias lá mesmo, e não me lembro porque eu acabei decidindo ir, muito pouco entusiasmado, eu já tinha experiência em apanhar, nos carnavais, na rua pelas namoradas das minhas ex-namoradas, já havia passado por situações de perigo no Planetário, e naquela noite, tudo começou comigo, porque os marginais queriam fechar o clube para sempre com uma briga que ficasse marcada com todos. Então eles começaram a me ameaçar e me cercar, eu dançava ridiculamente, estava sem par, e eles queriam alguém para bater, logo, logo eu percebi isso, e falei para os meus amigos o que estava acontecendo e que eu ia sair fora, desci as escadas, passei pela porta e quando cheguei na rua saí correndo e só parei na Protásio Alves, o clube ficava na São Manoel, uns 100 metros dali. Quando olhei para trás não vi ninguém, acabei voltando, perigosamente, para o clube na espera na saída dos meus amigos, não sabendo que lá dentro do clube a coisa estava bombando e eles inclusive estavam já se escondendo no banheiro das mulheres lá no clube. Eu sei que quando chegaram na rua, elas ainda caminhavam e as mulheres estavam na frente, e ainda saíram com ar de deboche, mas o que eles não imaginariam era a troca de marginais que atacaram eles, com voadora e ataques covardes, com mais de dez pessoas. Só sei que eu estava assobiando para eles, do outro lado da rua, quando vi o que aconteceu, eu nem esperei para ver o que ia acontecer, entrei pelo mato a dentro e me mandei, nem pensei duas vezes, saí correndo novamente até a Protásio, peguei um táxi e passei pela local para ver se encontrava os dois, e fui para casa. Eles tinha ido ao HPS e ainda encontraram lá um dos que causou a briga toda e quase que brigaram lá dentro, um deles havia levado um corte do canivete do meu amigo, que tinha um ótimo preparado físico e ainda conseguiu reagir. Quando voltaram para casa, subindo as escadas encontrei os dois, que estava em estado lamentável, entraram em casa, e explicaram tudo ao pai dele, que era coronel da Brigada, que bateu lá em casa, para pedir para que a gente fosse na delegacia dar parte, e eu fui mesmo. Lá o Wong ainda se sentiu mal, estava todo enfaixado, e sentia dores nas costelas, havia desmaiado. Explicamos todas as coisas e eu fui depois na casa dele, a irmã dele me tachou de “covarde”, que eu fugi, eu poderia ter dito que fui embora naquela hora e não os vi mais, que ninguém saberia que eu teria voltado lá? Mas não, eu não conseguiria conviver com aquela história e um dia teria que pagar por aquilo, pedi desculpas ao meu amigo uma vez numa festa de carnaval que estivemos, bebi demais e pedi perdão por tê-lo deixado naquele dia. Ele era tão fantástico que nunca me falou nada sobre aquela situação. Sei que um dia falarei somente sobre ele, até apresentei uma mulher para ele uma vez que quase deu certo. Mas as coisas às vezes não são para acontecer assim. Sei que num dos nossos encontros depois daquele ocorrido, num bar, movido a muita cerveja, o Wong, disse que que esteve na delegacia não fui, e sim, o pai dele. Meu amigo disse que eu nunca estive na delegacia, não tinha como se lembrar do ocorrido numa situação tão apavorante. Dali para frente, nos encontramos na formatura de todos e numa das festas declaramos um poema do quanto a desilusão nos tornou adultos.

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