quinta-feira, 7 de maio de 2015

CONVERSA SÉRIA - FINAL

De: C Enviado: terça-feira, 7 de abril de 2015 16:27 Para: N Assunto: Silvio Cunha Vou tentar respirar fundo, como eu sempre faço, tentar não pensar nestas coisas, não agora, sei que é difícil. Deixar a angústia passar e decidir o que fazer, se é que dá para fazer alguma coisa nesse momento. Deve ser uma TPM que não acompanhou o ciclo, acontece de vez em quanto quando os ponteiros do relógio não combinam entre eles. Mas uma coisa é certa, escuta bem o que eu digo: de tempos em tempos, tenho tido estas crises e estão cada vez mais intensas, sei lá porque, eu devo me dar conta de alguma coisa, talvez da solidão e de não ter com quem compartilhar não só as despesas, mas também as receitas, não tenho com quem me relacionar seriamente, e eu não sei porque acontece isso comigo, eu tão gostosinha, de dieta, de regime do ovo, da diminuição do tamanho da calcinha, sei lá, é alguma coisa. Fico analisando a minha vida e estou me sentindo frustrada, não é uma depressão, é de não ver o caminho evoluir após aquele concurso que fiz, acho que estagnei e vi que em tudo que a gente trabalha tem um fdp para nos ferrar mesmo. Fiz uma faculdade de m* que não lembro porque eu fiz, só sei que fiz e não sei nada disso, seria como fazer um curso de arquivista e trabalhar como diarista numa casa onde só tem obras antigas, entendes a minha frustração? Ela não é a toa, absolutamente de nada adiantou eu fazer aquele curso que não me trouxe novas expectativas, trabalho num cargo de nível médio onde já me sabotaram várias vezes, porque esse meu temperamento acaba me fazer passar por vários lugares e não sinto orgulho de dizer o que faço, até porque o que eu faço é coisa de jardim de infância, ao meu ver, não tem aquele tesão pelo assunto, sabes? Na verdade, me sinto como se não tivesse profissão, entende, nem anônimo eu poderia ser, porque não fiz nada até agora para dizer que sou especialista em alguma coisa? Acho que é isso que também tem pesado, não sei porque estudei e me formei, fiz trabalho e me incomodei com os colegas, para quê? Para nada! Além disso, tenho me sentido uma idiota, porque odeio ficar jogando e fofocando, até homem faz isso, e é por isso que me sinto mal quando fico ouvindo ou presenciando as maldades alheias no ambiente de trabalho. Tá tudo muito errado! Dá vontade de vender artesanato no calçadão da rua da Praia...ou arrumar um marido rico que me banque em troca de carinhos... DE: N PARA: C assunto: SILVIO CUNHA 07/04/2015 Acabei de fazer as cartas necessárias aqui da minha estação de trabalho e ainda preparei agora uma agenda na troca do material, a estagiária está de aniversário e não veio, é assim, me avisam de última hora, mas está ótimo porque muitas vezes não me avisavam de nada, quando via o cara tinha sumido e estava de férias (tem um outro nome, que nem sei qual é, folga ou rede de capacitação), esses dias mandaram uma embora porque não foi no treinamento, que é obrigatório, a guria não tinha passagem para vir. Hoje aqui o trabalho foi intenso, tenho que verificar uns e-mails importantes. Como eu te disse, tenho muita história. Essa vai ser reservada um capítulo especial nos meus desafetos. O nome era Silvio Cunha. Por causa de tudo isso que tu pensa e escreveu( me lembro até aquela vez que o e-mail foi para o SS, quando era para ser para o SC, onde tu disse tudo que tu pensava, lembra?), eu fui demitido do Serpro, uma empresa pública, nem gosto de me lembrar muito disso, mas é que contando hoje, parece meio inacreditável mesmo, me lembro que eu fiz curso para digitador (isso mesmo tinha que fazer curso e ser aprovado, tinha que se rápido e fazer certo) num teclado que se chamava "concentrador de teclados", tu não enxergava nada do que digitava, nada! O mais comum era ver no canto direito do painel: “REDIGITE”...fui aprovado, eu era bom mesmo, depois fiz um curso para operador e passei em primeiro lugar, foi aí que conheci minha mulher, não devia, mas aconteceu, ela passou em quarto e o terceiro desistiu, eram três vagas, era para gente ficar junto mesmo naquela época, a gente se dava muito bem como amigos, o problema é que a gente se envolveu porque passava a maior parte do tempo juntos, não consigo entender como é que pode acontecer isso, também. Eu tinha uma carreira brilhante pela frente, fazendo Análise de Sistemas, na PUC, aquele curso difícil, que tinha Cálculo, Integral, Cálculo Numérico, Equações diferenciais, Probabilidade e Estatística I e II, sem falar no Cobol, Algol, Fortran, PLI, Assembler, etc, eu certamente me daria bem naquela empresa, principalmente depois de me formar, haveria de aprender a profissão, que era difícil, me formei em 86, quando deveria ter me formado em 84, eu tranquei várias vezes a faculdade pela empresa e do que a empresa necessitava na época, eu precisava de grana também, não tinha como fazer tudo ao mesmo tempo, eu optei pela empresa, foi um grande erro. Por causa disso tudo que tu escreveu o tal Silvio Cunha, era um CC, foi colocado lá para detonar com a transcrição, fazer o negócio andar, e adotar um princípio taylorista, na empresa, pior do que já existia, eu estava me irritando com o protecionismo e como os chefes viam as coisas, eu sei que o cara me chamou um dia às 19h, hora da saída e disse aquilo que eu já sabia quando olhei nos olhos dele. Eu sei que eu tinha parentes no Serpro em Brasília que se meteram na história, ficou um clima ruim para todo mundo, eu estava me juntando com a minha mulher naquele mês, tinha até alugado apartamento, minha mulher chorou, foi horrível, várias pessoas também choraram por causa daquilo, coisa que eu vi, e a empresa me perdeu e eu a perdi, ele ainda disse que seria melhor para mim...não imaginaria o que eu passaria depois, tu imagina que isso poderia ter acontecido comigo? Aquele episódio foi um desastre para várias pessoas, mas minha mulher ainda trabalhou lá até o dia que passou num concurso da Caixa, estava grávida, foi bem no início da minha carreira, até hoje o pessoal que trabalhava lá se encontram, eu não me misturo. Não precisei perdoar, com certeza, mas eu tive que me virar, ou seja, não deu muito tempo para eu ficar abatido, tive que começar do zero uma construção que eu não estava preparado para acontecer, ficar desempregado naquela época foi tudo que não poderia ter acontecido, não daquela maneira. Como eu fui pego de surpresa, não tomei as minhas atitudes via sindicato ou coisa do gênero, buscar os direitos na justiça, ter entrado contra a empresa e pedir para voltar, acho que ia levar uma grana muito boa e ainda estaria de volta de um lugar que eu nunca deveria ter saído. Eu sei que foi uma das maiores injustiças que aconteceram comigo, mas eu era novo e dei a volta por cima, mas não foi fácil mesmo, pode ter certeza disso. Só sei que a data foi interessante 05/05/83 aniversário do meu irmão mais velho. No dia 04/05/12 também representou uma data importante para mim, e como tudo que acontece por esse período, requereu muita dramaticidade, prefiro nem comentar no momento, será feito no momento certo, mas foi tão dolorosa e mal administrada como aquela demissão do SERPRO pelo desafeto SILVIO CUNHA.

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