quinta-feira, 27 de setembro de 2018

o ORELHÃO

Estava como sempre ao meio dia aqui pelo centro, numa rua que deveria ser 24 horas, antigo projeto de algum partido político, que a rua deveria funcionar vinte e quatro horas, mal funciona até às 20h e pelo tipo de lugar que ficou, seria impossível, não tem segurança para nenhum tipo de público. Estava eu ali, fumando um cigarro, não deveria, mas enfim, estava ali, apreciando a loira da barbearia, o vendedor de tri-legal, as filas das lotéricas, e os transeuntes que são muitos, ali seria o lugar preferido dos fumantes, duas tabacarias, aqui não convém descrever o resto, gente de todo tipo e apenas uma travessa entre duas ruas, quando de repente o telefone toca, e pelo barulho, era para alguém de pouca audição, tocou duas vezes, e constatei que vinha de um orelhão, existem uns três ou quatro, lado a lado, e achei que aquela ligação era para mim e cada vez que tocava eu olhava para os lados e pensava, atendo ou não, devo? Naquele momento, realmente pensei que era para mim, alguém querendo dizer alguma coisa, talvez de que eu tenha sido eliminado ou estava de castigo, sim eu cometi ontem uma insanidade e acabei pensativo com isso. O que será que a outra pessoa iria me dizer, que eu deveria mudar as minhas atitudes em relação às pessoas? De que eu deveria aceitar as atitudes mais passivamente, de que a cobrança viria, mesmo que fosse do além vida, estava na hora de eu atender o telefone, mas o que diriam as pessoas que me visse atender aquele telefone, aquela hora e daquele jeito, já que no máximo eu peço um cigarro avulso para ver se me acalmo das contingências da vida profissional, já que na pessoal pouco se pode fazer senão ter a experiência de esperar. Talvez a outra voz poderia me dar alguns conselhos de como comportar diante de um momento tão perturbador. Tocou várias vezes e eu não me senti a vontade para atender, somos assim, diante das inúmeras possibilidades de ser mais uma ligação de que queremos manter distância, preferimos arrancar o gancho da nossa desilusão e sair falando dos nossos sentimentos mais obscuros. Parou e eu fiquei aliviado, dali fui a Igreja, caso tenha sido um pedido de Deus para me dar alguma orientação na hora de rezar, é o lugar que o verdadeiro sentimento de tranquilidade nos conforta, nos dá energia e nos purifica, saio outro e sei que o telefone vai tocar novamente a qualquer hora mesmo que seja o celular para me dizer para voltar à realidade.

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