segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Suicídio: o mal invisível que mata mais de mil gaúchos por ano

Rio Grande do Sul lidera os índices no país. Para debater o tema tabu, foram criados o Setembro Amarelo e o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, neste sábado

Três gaúchos morrem a cada dia de uma doença invisível. Um mal silencioso e silenciado, sombreado pelo tabu. Até pouco tempo atrás, dizia-se que era tão perigoso que melhor nem falar sobre isso. As palavras poderiam matar.
Só que o silêncio tampouco ajuda. À margem das discussões públicas, os casos se alastram. Mais de 800 mil pessoas cometem suicídio por ano no mundo, o que representa uma morte a cada 40 segundos. No Brasil, são 32 mortos diariamente, taxa superior à de vítimas de aids e de alguns tipos de câncer. E o Rio Grande do Sul lidera os registros no país, com 10,4 casos a cada 100 mil habitantes – é o dobro da média nacional.
Para entender por que isso acontece, é preciso se despir das fórmulas prontas e do senso comum. Não, isso não é "coisa de louco". Nem uma questão de "não querer se ajudar". Nesta reportagem, ZH encara o dilema que desafia inclusive o jornalismo para se somar à campanha mundial de conscientização, chamando atenção para o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, neste 10 de setembro. Assim como o Outubro Rosa se consagrou como o mês de atenção ao câncer de mama, foi criado o Setembro Amarelo para estimular a prevenção das mortes por suicídio. No país, a campanha foi iniciada em 2014 pelo Centro de Valorização da Vida, pelo Conselho Federal de Medicina e pela Associação Brasileira de Psiquiatria – e a cada ano tem crescido, difundindo o slogan Falar é a melhor solução. Por mais difícil que seja enfrentar a questão, estudiosos do assunto têm convicção de que o estigma é um dos principais obstáculos à prevenção.
– Ouvimos muito alarido sobre as mortes causadas por zika vírus, dengue e gripes. Mas nada ouvimos sobre as mortes causadas pelos suicídios. Nos últimos 19 anos, foram 21.513 pessoas mortas, um número que excede a população de São Francisco de Paula – compara o psiquiatra Ricardo Nogueira, coordenador do Centro de Promoção da Vida e Prevenção do Suicídio do Hospital Mãe de Deus e autor do livro Prevenção do suicídio – Implantação de uma rede intersetorial (2015), com base em seu mestrado sobre o tema.
De acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde, nove em cada 10 casos poderiam ser evitados. O diálogo é considerado o primeiro passo para interromper o ciclo de autodestruição.
– No momento em que a gente não fala, dá a impressão de que o problema não existe. Ou que existe e não tem solução. Como ajudar alguém se você não pode perguntar claramente se ele está pensando em tirar a própria vida? – indaga o psiquiatra Rafael Moreno Ferro Araújo, presidente do recém criado Comitê de Prevenção do Suicídio da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS).
Mas como falar? A dor pela perda de um familiar nessas circunstâncias pode ser tão dilacerante que há quem não queira ou não consiga compartilhá-la. Outros estão dispostos a conversar, mas o estigma de frases cochichadas como "aquela ali é mãe daquela que se matou" amplia a estridência da falta e o sentimento de culpa, por isso preferem o anonimato.
– A gente vê o suicídio quase como uma falência pessoal, e não tem nada a ver. É como ficar doente: ninguém escolhe ficar gripado, mas as pessoas vão se gripar. Existe muito preconceito em relação à doença mental, mas é uma patologia como qualquer outra. Existem saídas, e a melhor forma de resolver é buscar tratamento – aconselha o psiquiatra Jair Segal, Coordenador da Equipe de Saúde Mental do Hospital de Pronto Socorro (HPS) e também membro do Comitê da APRS.
A própria ideia de que o suicídio é uma opção passa a ser questionada. Se o paciente atravessa uma desordem mental e emocional, teria de fato condições de escolher alguma coisa?
– Ninguém quer morrer. Se vem à cabeça esse tipo de pensamento é um sintoma, e não um desejo – afirma a psiquiatra Roberta Grudtner, presidente da Associação em Defesa da Saúde Mental Integral (Adesmi), integrante da Comissão de Prevenção ao Suicídio da Associação Brasileira de Psiquiatria e coordenadora da residência médica em psiquiatria do Hospital São Pedro.
Para Roberta, a revisão do tabu é essencial para que qualquer um seja capaz de reconhecer os sinais. Assim como todo mundo sabe que alguém com forte dor no peito pode estar enfartando, é preciso aprender a identificar evidências menos palpáveis que ameaçam a vida.
– A "dor no peito", no caso do suicídio, pode ser a repetição de frases como "a vida não vale a pena", "eu só dou trabalho para os outros", "seria melhor estar morto". Em vez de dizer "deixa de bobagem", a pessoa que está ouvindo pode perguntar: "O que tu está pensando?", "vamos procurar ajuda?" – orienta a psiquiatra.
Ao contrário do que preconiza o senso comum, o psiquiatra Jair Segal reforça que é um mito a ideia de que "quem quer se matar não fala", ou que quem fala está em busca de atenção.
– Cão que ladra morde, sim – alerta.
"NÃO POSSO DIZER QUE ESTOU CURADA, MAS
NÃO TENHO MAIS VERGONHA DE FALAR"


Nelsonpoa: Um tema indigesto, não é como falar de romance, de beijo, de sexo e de relacionamentos, de política e de futebol, falar desse tipo de morte é como não encontrar mais as respostas e isso vir a causar tantos questionamentos na cabeça de uma pessoa que ela não consegue mais lidar com isso, consigo mesma e com o peso de ter que carregar tudo isso pelo resto da vida, porque não abreviá-la? Alguns dizem que é o ato de mais covardia que se pode ter, eu acho que precisa de muita coragem, e ainda assim mesmo, ainda as pessoas deixam cartas de porque fizeram isso, ou seja, se preocupam com os que ficaram, isso quer dizer que a situação não estava tão ruim, poderia ainda ser resolvida, bastava saber que isso estava por acontecer. Uma vez um amigo me disse que chegou a pensar que não valia mais a pena continuar,não sei se ajudei, mas isso faz muitos anos e até agora a gente tem se conversar uma vez por mês todos os meses e falamos sobre tudo, a última vez conversamos três horas.
Há muito que falar sobre isso, sobre a solitude, a falta de entendimento, a possibilidade ficar sozinho em casa e sem ninguém além da tv e do bar para dar um sentido para vida, da adolescência mal resolvida, da falta de caminhos, da inoperância dos pais em se aproximar. Temos que ter coragem de abordar o assunto sempre que ele vier a tona, não nos deixaremos de nos manifestar, por mais indigesto que ele seja, provavelmente vou expor o mais senil fato que envolve o tema e que não se renova, ele existe porque as pessoas deixam ele tomar conta da alma e do pensamento. Vamos fugir deles?

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