terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Paulo Braun

Conheci Paulo Braun numa sala de ingresso no aeroporto. Para que o nosso ingressante se chamava Marcelo, não me lembro muito bem, cheguei atrasado e adentrei com aqueles olhares de poucos amigos. Paulo era meio que alemão e tinha atitudes assim, bastante radicais em relação às pessoas, não sei como ele tinha aquela esposa, no fundo, ele devia ter um lado emocional muito forte, como todos descendentes de alemães que conheci tem, são sensíveis nessa coisas que tocam no coração. Paulo queria progredir na vida de qualquer jeito e crescer na empresa rapidamente, achava que por ter um cargo de nível superior, teria respeito e admiração dos colegas; não foi muito bem o que aconteceu. Eu ensinei algumas coisas para ele, principalmente de não ter medo e de ousar, mas o resto ele teria que conseguir por si mesmo. Ele me contou das suas experiências profissionais do Banco do Brasil, onde achava que seria demitido, de tanto que pegavam no pé dele, e da Prefeitura de Porto Alegre, trabalhava na SMIC, dizia que era um lugar tão ruim, que para se livrar de lá, fez um novo concurso para o mesmo cargo dentro da própria prefeitura, passou e foi chamado, e de lá foi para o DEP, uma estória realmente muito louca. Paulo me apostou uma que um de nossos gerentes não ia durar um mês no cargo, e eu apostei com ele, uma aposta pesada, perguntando porque, ele disse que tinha visto uma propina por um acaso quando entrou numa sala sem bater, dinheiro grande ao meu ver. Ele tinha razão, não demorou muito aquele gerente foi demitido e entrou um novo time fazendo um pente fino no setor, eu escapei de ser escalpelado, por algum colega meu, que reconhecia no meu trabalho uma grande evolução no setor, eu fiscalizava tudo, era mais a minha cara, foi o que a psicóloga do ingresso falou. Já Paulo, foi trabalhar em licitações e depois foi para Florianópolis, o grande sonho dele, ele não costumava se envolver com mulheres ou com situações de confronto em que saísse prejudicado, ele tinha uma antipatia natural dos colegas porque era meio arrogante e pedante, só eu o conhecia bem, de que não era nada daquilo, Paulo tinha uma trajetória voltada para Gerência, e eu de assessor para cortar as asas dele, ele não tinha talento para ser operacional, era um gerente nato, tinha postura e qualidade para isso, precisa ser lapidado, como um diamante, mas aquela empresa não tinha tempo para isso, para ver o que estava nas entrelinhas do estrelado da Administração, sem falar que ele não estava do lado da empresa nunca nas votações do sindicato; nessas horas temos que definir de que lado nós estamos, se do da empresa, ou dos funcionários, eu achava que a gente tinha que estar era do nosso lado mesmo. Paulo era caroneiro no início, no meio também, e no fim a gente pouco mantinha relações, ele não conseguia entender como eu tinha progressos tendo vindo de uma base com tão pouco experiência como a área de imóveis e de escola pública, conseguir aquela projeção por ainda ser bem mais velho ou idoso, como queira. O que ele não sabia na verdade era que eu já tinha feito pós graduação, que a escola pública foi apenas a base, e que eu tinha sido o primeiro corretor a usar a Internet para publicar suas fotos e sites, uma visão futurista. Mas isso não interessava, nunca confiei meus segredos para ele, meu confidente era um outro amigo que guardava com ele essas alternativas, não que ele demonstrasse confiança, mas poderia usar aquilo contra mim em algum momento da nossa carreira profissional, que estava apenas no início. Tenho um fato com o Paulo, onde nós degustamos uma taça de vinho com a nossa gerente, naquela noite e me chamou de mal educado, pois servi o vinho para mim e não o servi para ela. Fiquei bastante chocado com a minha falta de atitude em relação a isso, principalmente porque nesse campo tenho bastante experiência, alguma coisa me fez agir daquela forma. Depois que ele foi embora, tive momentos de grande amizade com a nossa gerência, de almoço, de visitas a trabalho, de trabalho propriamente dito e de almoços, cafés e momentos de conversa a dois, sem intimidade. Depois que fui embora, imagino que as coisas nunca mais foram as mesmas.

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